“A polarização sectária, praticada
abusivamente por anos a fio, conduziu-nos a coisa muito pior. Desde a vitória
do presidente Bolsonaro uma espécie de subversivismo elementar (de parte) das
classes dominantes encontrou o consenso passivo de amplos setores da população,
tornando viável a violação – ao menos retórica – de um dos requisitos mínimos
da democracia. É que, segundo essa concepção, “eles”, todos os que se opõem, só
podem ser “antipatriotas”, “vermelhos” e “comunistas”, explicitando-se assim a
intenção de abolir a normal alternância e promover, quem sabe, novo e
indefinido período autocrático.
Nos
Estados Unidos, ora em condição análoga, Joe Biden vem encarnando a melhor
estratégia: reativar a cidadania, reagrupar os democratas e, ainda, abrir-se
para os republicanos que recusam os maus modos de Trump. A grande aposta é que
a sociedade civil e a sociedade política, no estilo ocidental, nunca se deixam
aprisionar por muito tempo e logo voltam a se impor aos demagogos.
Lá como
aqui.”
* Luiz Sérgio
Henriques, tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de
Gramsci no Brasil. “O duplo ataque à democracia”, O Estado de S. Paulo,
18/10/2020.
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