Depois
de abandonar o PSL e a 'nova política', Bolsonaro testa os generais
Com
o fiasco da “nova política” nos governos estaduais e o escanteio do PSL em favor do Centrão no Congresso,
o presidente Jair
Bolsonaro volta ao seu habitat político e apoia o “velho”
também nas eleições
municipais. Mas, assim como o “novo” não funcionou nos governos e no
Congresso, o “velho” não está dando para o gasto na disputa pelas prefeituras.
Entre o “velho” e o “novo”, tem prevalecido a experiência e a confiança.
Os
“novos” e meteóricos Wilson Witzel, juiz de
carreira eleito no Rio pelo PSC, e Carlos Moisés, bombeiro
militar eleito em Santa Catarina pelo PSL, estão deixando a política pela porta
dos fundos, afastados dos
governos dos seus estados pelas vias política e jurídica. Não
têm experiência e cancha para a complexidade da política e, aparentemente, não
entraram nela apenas “por ideologia” e “pelo bem comum”...
Talvez por isso, talvez não, Bolsonaro desistiu de um exército (atenção, em minúscula...) que só tem dado dor de cabeça e mergulhou de volta na sua velha turma de 28 anos de Congresso. Apoia o prefeito Marcelo Crivella no Rio e o sempre candidato Celso Russomanno em São Paulo, ambos do Republicanos. Mas suas candidaturas derretem ao ritmo de Amazônia e Pantanal.
Inelegível,
Crivella recorre à Justiça Eleitoral e tem um recorde: 58% de rejeição, o que
sugere chance zero de vitória. Quem lidera é o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM),
efetivamente o que tem mais experiência. E quem emerge para disputar com ele o
segundo turno é Martha Rocha (PDT),
mulher, delegada e de um partido brizolista – referência política que ainda
resiste no Rio. Empatada com Crivella, ela é seguida de perto por Benedita da
Silva (PT).
Em
São Paulo, repete-se o script das duas eleições anteriores: Russomanno dispara
na frente e vai se desmilinguindo, desta vez pendurado em Bolsonaro. Revela-se
um mau negócio. Depois de fotos com o presidente, ele disparou na rejeição,
despencou nas intenções de votos e foi superado pelo prefeito Bruno Covas, do
PSDB.
Pelo
retrato de hoje, que sempre pode mudar, o segundo turno vai ser mais uma vez,
como há décadas, entre PSDB e a esquerda. Mas tem novidade: Jilmar Tatto (PT)
cresce a passos de tartaruga e a nova cara da esquerda é Guilherme
Boulos (PSOL). Um segundo turno entre PSDB e PSOL tende a
favorecer o tucano.
Sem
surpresa, o PSL, que há apenas dois anos elegeu Bolsonaro, conquistou governos
estaduais e formou uma das duas maiores bancadas da Câmara, vai de mal a pior
na campanha. Com R$ 199 milhões do Fundo Partidário, mas sem Bolsonaro, sem
protagonismo e sem lideranças no Congresso, disputa em 13 das 26 capitais com
candidaturas próprias, mas só tem alguma chance em uma, Palmas, com uma mulher,
Vânia Monteiro.
Eleições
municipais não projetam o resultado de eleições presidenciais, mas são um bom
momento de consolidar ou destruir personagens, mobilizar estruturas partidárias
e militantes e jogar no ar questões fundamentais para o País. Ainda mais em
tempos de pandemia, recessão, desemprego e um presidente capaz de desdenhar da
pandemia, atacar o isolamento social, propagandear a cloroquina e agora
desacreditar e guerrear contra a... vacina.
O
PSL se esvai e o “novo” envelhece, mas o bolsonarismo fica. Além de saúde,
educação, habitação, a eleição deve servir também para discutir realidade,
princípios e, afinal, o que é, o que significa e o que projeta esse
bolsonarismo. A semana, aliás, é excelente para isso. Depois de ficar com o tal
guru da Virginia contra o general Santos Cruz e de humilhar o general Pazuello,
Bolsonaro tem de optar
entre Ricardo Salles e o general (Maria Fofoca) Ramos. Eleição
municipal não tem nada a ver com isso? Qualquer eleição tem sim, e muito!
* Comentarista da Rádio Eldorado, da Rádio Jornal e do Telejornal Globonews em Pauta
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