A
crise desencadeada pelo agressivo tuíte do ministro do Meio-Ambiente Ricardo
Salles contra seu colega de ministério, Luiz Eduardo Ramos, não se encerrou com
a tentativa de Bolsonaro de passar pano sobre o caso. O apelido de “Maria
Fofoca” jogado nas redes sociais por Salles, além de desrespeitoso, serviu para
excitar a ala ideológica do governo, que gosta dessas baixarias como
instrumento de luta política. Incentivada pelos próprios filhos do presidente,
que foram ao Twitter apoiá-lo.
A
situação difícil em que foi colocado, como ele mesmo define, fez com que o
ministro chefe da Secretaria de Governo da Presidência Luiz Eduardo Ramos se
tornasse o centro de uma disputa política que não foi de sua escolha.
Desde
que foi Comandante Militar do Sudeste, com sede em São Paulo, o General Ramos
acostumou-se a lidar com políticos, fazendo questão de manter uma relação
suprapartidária que incluía até mesmo o PT, quando isso era uma ousadia. Não
foi por acaso, portanto, que foi escolhido para ser o interlocutor do governo
com o Legislativo, tarefa que vinha exercendo com eficiência e correção até que
grupos do Centrão esticaram o olho para seu cargo.
O
interessante nesse caso é que coube a Ramos fazer a aproximação do presidente
Bolsonaro com os políticos do Centrão, quando ficou claro que era necessário
montar uma base parlamentar e entrar no jogo político tradicional para evitar
crises, que poderiam levar ao impeachment.
A
ambição do Centrão está tendo resistência de um bloco de parlamentares que não
comungam com a agressividade das redes sociais, enquanto o ministro Salles atua
em sintonia com a ala ideológica do governo, que tem nas redes sociais sua
maior arma política.
Embora
acostumado às negociações políticas, o General Ramos não se acostumou a
traições e jogo baixo nas redes sociais. Tendo ido recentemente para a reserva,
deve estar agradecendo por ter tomado tal atitude, pois agora a crise que
enfrenta não envolve tão diretamente o Exército como se ainda estivesse na
ativa, o que Bolsonaro queria.
O
General Ramos foi o primeiro militar a entender que sua permanência na atuação
política do governo estaria prejudicada se continuasse na ativa, o que não
ocorreu ao General Eduardo Pazzuelo, general de três estrelas que foi humilhado
publicamente nos últimos dias pelo presidente Jair Bolsonaro.
A
relação entre os militares que estão no governo e os civis que começaram a
povoar os cargos a partir da aliança com o Centrão é conturbada pelos diversos
sinais desencontrados que emanam dela. Na fase inicial do governo Bolsonaro, os
militares ganharam poder e dominaram o espaço do Palácio do Planalto.
Tudo
indicava que seriam eles os organizadores das ações políticas e administrativas
do governo, e isso deu ao presidente Bolsonaro uma sensação de poder que ele
propositalmente usou para ameaçar os que se opunham a ele. Durante muito tempo
Bolsonaro escudou-se nos militares para anunciar uma blindagem que não tinha,
mas aparentava ter.
Os
militares até hoje aceitam a liderança de Bolsonaro sem contestações, embora
nos bastidores episódios como os do General Pazzuelo tenham repercutido mal,
ainda mais por ser um militar da ativa. Até o momento, os ministros militares
ainda ocupam os principais cargos dentro da estrutura do governo no Palácio do
Planalto, e têm os instrumentos administrativos para manter o poder.
A
guerra de verbas no ministério do Meio-Ambiente se refere mais às ações
políticas do que propriamente ao dinheiro do orçamento. Prova disso é que nas
duas ocasiões em que órgãos do ministério anunciaram paralização por falta de
verba, ela apareceu imediatamente.
O
entendimento dos ministros ligados ao tema, inclusive o vice-presidente
Hamilton Mourão, é de que Salles usa a dificuldade de orçamento para criar
fatos consumados e jogar para os ministros que controlam o orçamento, como
Paulo Guedes da Economia, a batata quente. O ministro Ramos está conseguindo
apoios importantes nessa briga com Salles, o mais importante deles o do
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que não apenas o apoiou, como atacou
Salles, acusando-o de, além de destruir o meio-ambiente, tentar destruir o
próprio governo.
Outros políticos do Centrão, como o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o senador Ciro Nogueira, apoiaram Ramos, numa briga intestina que só deve terminar quando o presidente Bolsonaro definir para que lado quer ir. A política internacional, se uma vitória de Joe Biden for confirmada, pode ter peso decisivo nessa definição.
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