Falta
de repúdio ao presidente mais perigoso da história americana é reveladora
Já
sabemos o resultado da eleição americana de 2020. Não importa a lenta
contagem da Pensilvânia, que pode ser decidida num tribunal. Ou o
suspense de uma recontagem em
outro estado.
O
resultado que importa chegou mais rápido do que a inesperada vitória de Donald
Trump, que os nova-iorquinos testemunharam na madrugada fria de 9 de novembro
de 2016. Naquele dia, a multidão atordoada que vi se dispersar em Times Square,
coração da metrópole democrata, parecia compartilhar a ilusão de que Trump era
um acidente de percurso.
Os
últimos quatro anos demonstraram que Trump não é uma anomalia. É um espelho do
país que o elegeu. Sim, Joe Biden terá recebido
o maior número de votos populares de qualquer candidato desde a
fundação da República. É a sétima vez, em oito eleições, que o Partido
Democrata sai vitorioso no voto popular, mas os republicanos levaram a Casa
Branca em quatro delas.
A
falta de repúdio decisivo ao partido que deu suporte ao presidente mais
perigoso da história americana é o resultado revelador, mesmo com uma vitória
apertada de Joe Biden. O Senado deve
continuar controlado pelo demolidor niilista Mitch McConnell, o homem para quem
200 mil mortos foram um preço razoável para fincar 200 novos juízes nos
tribunais federais.
Uma juíza com
visões extremistas, na contramão da maioria da população, acaba de
ocupar uma vaga na
Suprema Corte com o voto de 52 senadores que representam 17
milhões menos eleitores do que os 47 democratas que votaram contra ela.
O
desempenho legislativo dos democratas nesta eleição foi pífio. Mais uma vez, as
pesquisas deixaram de tomar o pulso real dos eleitores. É hora de questionar o
papel de pesquisas? Elas determinam a cobertura e dominam a
arrecadação de fundos privados. As pesquisas decidem quem será visto e ouvido
pelo público no palanque dos debates.
No
meio da votação, Nova York descobriu que a polícia tinha pronto um plano de
contingência para isolar quarteirões inteiros se protestos dessem lugar a
saques e vandalismo contra lojas e bancos. Uma boa parte das fachadas já estava
coberta por tapumes de
madeira. Veio a noite, e os milhares de policiais de prontidão se
viram ociosos. Os nova-iorquinos que tomaram as ruas com fúria pelo assassinato
do homem negro George Floyd, sufocado por um policial branco em Minneapolis,
foram dormir.
Foi
ruidoso o silêncio dos jovens que lideram as estatísticas de desemprego, têm
cada vez menos acesso à educação de qualidade e vão pagar a conta da mudança do
clima. O que revela a mudez de Nova York, tão dependente de um presidente Biden
para salvar sua economia infectada pelo coronavírus?
Um
vídeo de sábado (31), já assistido mais de 20 milhões de vezes, mostra Barack
Obama fazendo uma bela cesta de três pontos, num ginásio no estado do Michigan.
Ele marcou e foi gingando para a saída, mas antes puxou a máscara e disse para
a câmera: “É isto que eu faço!”. Foi um momento de glória fugaz que encheu o
coração dos saudosos pelo americano mais popular do presente.
O líder de fato dos democratas desde 2016, o presidente que estava no Salão Oval enquanto seu partido derretia nas urnas, é mesmo bom de bola. Mas, no final da prorrogação que daria uma nova chance à saúde da democracia, não houve rebote.
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