quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Bruno Boghossian – A testemunha da rachadinha

- Folha de S. Paulo

Com depoimento de ex-assessora, fica difícil negar festa com dinheiro público na Assembleia

Em agosto de 2011, Fabrício Queiroz não tinha ideia de que Jair Bolsonaro se tornaria presidente da República. Na época, o policial militar aposentado conduzia normalmente os negócios de um dos gabinetes da família. Uma nomeação que ele acertou naquele mês ressurge como um fator de risco para o clã que agora comanda o Planalto.

Uma ex-assessora de Flávio Bolsonaro admitiu a investigadores do caso da rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio que devolveu quase todo o salário para Queiroz por seis anos, como noticiou o jornal O Globo. Luiza Sousa Paes disse que repassava 90% da remuneração, os benefícios do cargo e até a restituição do imposto de renda.

Com a confissão, fica mais difícil esconder a festa com recursos públicos que, segundo os promotores, corria no gabinete do filho do presidente. A ex-assessora apresentou comprovantes dos depósitos para Queiroz e ainda se comprometeu a restituir a pequena parcela do dinheiro que ficou com ela no fim das contas.

As explicações escorregadias dadas por Flávio, que foi denunciado pelo Ministério Público, são sinais do tamanho do problema. Os advogados disseram que “ele desconhece” operações realizadas na Assembleia e que as contratações em seu gabinete seguiam as regras, “até onde o parlamentar tem conhecimento”.

O filho do presidente dobra a aposta ao concentrar a responsabilidade pelo esquema em Queiroz –um sujeito que, meses atrás, estava escondido na casa de um advogado da família. A defesa ainda precisará convencer a Justiça de que não há conexão entre a verba pública que abastecia o ex-assessor e os 63 boletos de Flávio que ele quitou em espécie.

Um novo trecho do mapa do dinheiro ficou mais nítido com o testemunho da ex-assessora. O que deve apavorar a família presidencial são os caminhos que ainda serão desenhados e que se aproximam do Palácio do Planalto. Esses traços podem explicar os R$ 89 mil que Queiroz e sua mulher repassaram para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.

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