Congresso
e país divididos animaram os negócios nos mercados financeiros dos EUA
No estado do
Oregon, aquele logo ao norte da Califórnia, ter pequenas quantidades
de ecstasy, cocaína, LSD, metanfetamina e cogumelos alucinógenos ou seus
derivados deixa de ser crime, decidiram os eleitores na terça-feira (4) de
eleições e de outras votações americanas. Mais quatro estados legalizaram a
maconha –agora são 15.
Na
Flórida, aumentaram o valor do salário mínimo. Na Califórnia, o lobby das
empresas de aplicativos de transporte e entregas convenceu o
eleitorado a derrubar a decisão da Suprema Corte estadual que
obrigava essas firmas a tratar motoristas e entregadores como empregados, não
como terceirizados sem vínculo e direitos trabalhistas.
Mas
o decisivo mesmo, como vai se vendo, é que os Estados Unidos continuam
divididos até a medula, que o presidente não terá maioria no Congresso e que
políticas públicas fundamentais podem não avançar por causa de impasses e
desacordo partidário incontornável.
Os
donos do dinheiro grosso tomaram conhecimento dessas fissuras fundas e acharam
isso bom.
Até
o momento em que se escreviam estas linhas, noite de quarta-feira, não se sabia
quem fora eleito presidente dos Estados Unidos. Aparentemente o Partido
Democrata não seria majoritário no Senado, mantendo a Câmara por maioria
pequena. A possibilidade
de “onda azul” (ampla vitória dos democratas) morreu na praia
como marolinha, se tanto.
E
daí?
Pelos
“votos” nos ativos financeiros nos mercados e nas opiniões que os ilustravam pela
mídia econômica, dá para ter uma ideia do que o povo do dinheiro estava
pensando. Joe Biden, caso eleito, não terá votos para passar aumentos de
impostos sobre empresas; talvez nem mesmo sobre cidadãos mais ricos.
Será
improvável regulação mais pesada sobre as firmas, as “Big
Techs” em particular, ou sobre setores como saúde. O Partido
Republicado no Senado teria capacidade de barrar ou enrolar tais iniciativas.
Seria
menos provável a aprovação de um plano amplo de despesas do governo federal com
o objetivo de tirar a economia da recessão, de resto por meio de um programa de
“obras verdes”. A contenção do aumento do gasto implica menos emissão de dívida
pública, juros mais baixos e (é a mesma coisa) desvalorização menor dos títulos
da dívida pública americana). O povo do dinheiro então comprou títulos da
dívida.
A
perspectiva de um governo em certo aspecto (econômico) fraco animou os donos do
dinheiro e orientou decisões de investimento. Esses movimentos podem durar
menos que dias, por vezes horas. Mas era assim que investidores “votavam” no
mercado, olhando os resultados parciais da eleição para o Congresso e Casa
Branca.
Sem
um pacote de gastos federais gordo, não haveria risco de a economia americana
perder fôlego, ao menos no curto prazo? Talvez. Os donos do dinheiro acham
então que o Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, vai dar conta do problema,
embora o próprio comando do Fed diga que mais estímulo fiscal (gasto do
governo) seja necessário. Os donos do dinheiro acham que haverá mais
intervenções monetárias (em última análise, crédito de graça) e juros baixos
por mais tempo. O Fed, como tanto Banco Central do mundo rico, teria ainda de
fazer também o papel de banco comercial muito mal disfarçado.
Paralisia decisória e risco de polarização política ainda mais acentuada, talvez entrincheirada, não eram aflições. Na quarta-feira, os donos do dinheiro se animavam com o impasse político mais geral nos Estados Unidos.
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