Eleições
municipais ocorrerão em meio a negociações para a formação de alianças para
2022. Nomes que desejam furar o domínio de Bolsonaro e do PT em 2018 encontram resistências
e buscam caminhos para se viabilizar
Bruno
Góes – O Globo
BRASÍLIA
- Embora ainda seja cedo para qualquer definição de candidaturas à Presidência
da República em 2022, possíveis postulantes ao cargo se movimentam para formar
uma aliança com o objetivo de furar a polarização entre Jair Bolsonaro e uma
candidatura do PT que dominou a eleição de 2018. As conversas ainda são
embrionárias e se situam em ambiente pouco favorável ao consenso.
Apesar
das conversas e movimentações, a maioria dos personagens principais está
distante do pleito municipal que ocorre no próximo final de semana. O
apresentador Luciano Huck não tem participado de campanha alguma, enquanto o
ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro gravou apenas um vídeo para o candidato
Capitão Wagner (PROS), mas sem pedir voto.
O
governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem sido escondido na campanha pelo
prefeito da capital paulista, Bruno Covas, seu correligionário. Apenas Ciro
Gomes (PDT) usa o pleito municipal para se posicionar visando a disputa de
daqui dois anos. Ele tem participado ativamente das campanhas de candidatos de
seu partido e de aliados país afora.
Os possíveis postulantes
Sergio
Moro
Ex-ministro
da Justiça e ex-juiz da Operação Lava-Jato, Sergio Moro enfrenta como principal
obstáculo a se viabilizar como alternativa a Bolsonaro e ao PT a resistência
que encontra em quase todos os partidos e nas demais figuras que estarão na
oposição a Bolsonaro em 2022. Assim que foi noticiado seu encontro com Luciano
Huck, por exemplo, Ciro Gomes e Rodrigo Maia deram declarações descartando
qualquer aliança com Moro por considerá-lo um político de extrema direita. Pesa
ainda contra ele o fato de ter integrado o governo Bolsonaro. Sua atuação na
Lava-Jato impede o apoio de partidos do chamado centrão, siglas com as quais
Moro nunca teve boa interlocução. A favor do ex-ministro da Justiça, porém, há
sua boa popularidade e o fato de ter a imagem associada ao combate à corrupção.
Em entrevista ao GLOBO na última segunda-feira, Moro admitiu estar articulando
uma terceira via para 2022, e citou como possíveis presidenciáveis Huck, João
Doria, Luiz Henrique Mandetta, João Amoêdo e até o vice-presidente Hamilton
Mourão.
Ciro
Gomes
Terceiro
colocado na disputa em 2018, Ciro Gomes procura manter relações próximas com
forças de esquerda e de centro. Tem boa interlocução com uma ala do DEM, como o
presidente do partido, ACM Neto, e o da Câmara, Rodrigo Maia, mas possui
resistência em partidos moderados importantes, como o MDB, a quem sempre
responsabilizou por atos de corrupção. Nas eleições municipais, seu partido, o
PDT, fechou uma dobradinha com o PSB em oito capitais, numa aliança embrionária
para 2022. Em encontro com Lula em setembro que classificou como “lavagem de
roupa suja”, Ciro tentou restabelecer laços com o PT, mas considera que houve
um esgotamento do eleitorado em relação ao que chama “lulopetismo” e uma
aliança formal em 2022 tem chance remota. Identificado como um candidato de
esquerda, teria dificuldade de aglutinar em torno de seu nome, para além do
PSB, outros nomes como Doria ou Luciano Huck, os quais já criticou em episódios
recentes.
Luciano
Huck
O apresentador Luciano Huck é uma das apostas de partidos de centro para fortalecer uma candidatura que se apresente como moderada. Huck tem conversado com vários atores políticos. Dialogou, por exemplo, com Sergio Moro, com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O apresentador tem boa relação com o PSDB e busca aproximação com forças também de esquerda. Se resolver sair candidato, o caminho mais provável, hoje, é filiar-se ao Cidadania. Huck é distante de legendas do centrão que formam a base do governo, entretanto. Partidos como PP, PL e Republicanos decidiram apoiar Bolsonaro, mas ainda é cedo para saber se essa “fidelidade” se estenderá até a eleição. A favor de si, tem o alto grau de conhecimento por parte da população pelos anos de TV, ao mesmo tempo que pode se apresentar como alguém de fora da política. Seu nome chegou a ser cogitado em 2018, mas ele não quis se candidatar.
João
Doria
Desde que entrou para a política, o governador de São Paulo, João Doria, tem como meta disputar a Presidência da República. Já apoiou Jair Bolsonaro em 2018, estimulando o voto BolsoDoria, mas hoje faz questão de se colocar como principal oponente ao mandatário do Palácio do Planalto. Doria tem boa relação com partidos de centro no Congresso, mas teria dificuldade de reunir nomes de centro-esquerda em uma chapa. Ciro Gomes, por exemplo, descarta participar de uma aliança com sua presença. Sua crescente rejeição em São Paulo é mais um obstáculo. Em campanha à prefeitura da capital, Bruno Covas, colega de partido, esconde o apoio do governador à candidatura tucana. Ao trazer DEM e MDB para a chapa de Covas, Doria tenta fazer o início de uma aliança em torno de seu nome para 2022. O governador mantém diálogo com Sergio Moro. Caso seja candidato, poderá ter mais condições de aglutinar forças de direita não bolsonaristas e da centro-direita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário