quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Presidenciáveis enfrentam obstáculos por 3ª via

Eleições municipais ocorrerão em meio a negociações para a formação de alianças para 2022. Nomes que desejam furar o domínio de Bolsonaro e do PT em 2018 encontram resistências e buscam caminhos para se viabilizar

Bruno Góes – O Globo

BRASÍLIA - Embora ainda seja cedo para qualquer definição de candidaturas à Presidência da República em 2022, possíveis postulantes ao cargo se movimentam para formar uma aliança com o objetivo de furar a polarização entre Jair Bolsonaro e uma candidatura do PT que dominou a eleição de 2018. As conversas ainda são embrionárias e se situam em ambiente pouco favorável ao consenso.

Apesar das conversas e movimentações, a maioria dos personagens principais está distante do pleito municipal que ocorre no próximo final de semana. O apresentador Luciano Huck não tem participado de campanha alguma, enquanto o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro gravou apenas um vídeo para o candidato Capitão Wagner (PROS), mas sem pedir voto.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem sido escondido na campanha pelo prefeito da capital paulista, Bruno Covas, seu correligionário. Apenas Ciro Gomes (PDT) usa o pleito municipal para se posicionar visando a disputa de daqui dois anos. Ele tem participado ativamente das campanhas de candidatos de seu partido e de aliados país afora.

Os possíveis postulantes

Sergio Moro

Ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava-Jato, Sergio Moro enfrenta como principal obstáculo a se viabilizar como alternativa a Bolsonaro e ao PT a resistência que encontra em quase todos os partidos e nas demais figuras que estarão na oposição a Bolsonaro em 2022. Assim que foi noticiado seu encontro com Luciano Huck, por exemplo, Ciro Gomes e Rodrigo Maia deram declarações descartando qualquer aliança com Moro por considerá-lo um político de extrema direita. Pesa ainda contra ele o fato de ter integrado o governo Bolsonaro. Sua atuação na Lava-Jato impede o apoio de partidos do chamado centrão, siglas com as quais Moro nunca teve boa interlocução. A favor do ex-ministro da Justiça, porém, há sua boa popularidade e o fato de ter a imagem associada ao combate à corrupção. Em entrevista ao GLOBO na última segunda-feira, Moro admitiu estar articulando uma terceira via para 2022, e citou como possíveis presidenciáveis Huck, João Doria, Luiz Henrique Mandetta, João Amoêdo e até o vice-presidente Hamilton Mourão.

Ciro Gomes

Terceiro colocado na disputa em 2018, Ciro Gomes procura manter relações próximas com forças de esquerda e de centro. Tem boa interlocução com uma ala do DEM, como o presidente do partido, ACM Neto, e o da Câmara, Rodrigo Maia, mas possui resistência em partidos moderados importantes, como o MDB, a quem sempre responsabilizou por atos de corrupção. Nas eleições municipais, seu partido, o PDT, fechou uma dobradinha com o PSB em oito capitais, numa aliança embrionária para 2022. Em encontro com Lula em setembro que classificou como “lavagem de roupa suja”, Ciro tentou restabelecer laços com o PT, mas considera que houve um esgotamento do eleitorado em relação ao que chama “lulopetismo” e uma aliança formal em 2022 tem chance remota. Identificado como um candidato de esquerda, teria dificuldade de aglutinar em torno de seu nome, para além do PSB, outros nomes como Doria ou Luciano Huck, os quais já criticou em episódios recentes.

Luciano Huck

O apresentador Luciano Huck é uma das apostas de partidos de centro para fortalecer uma candidatura que se apresente como moderada. Huck tem conversado com vários atores políticos. Dialogou, por exemplo, com Sergio Moro, com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O apresentador tem boa relação com o PSDB e busca aproximação com forças também de esquerda. Se resolver sair candidato, o caminho mais provável, hoje, é filiar-se ao Cidadania. Huck é distante de legendas do centrão que formam a base do governo, entretanto. Partidos como PP, PL e Republicanos decidiram apoiar Bolsonaro, mas ainda é cedo para saber se essa “fidelidade” se estenderá até a eleição. A favor de si, tem o alto grau de conhecimento por parte da população pelos anos de TV, ao mesmo tempo que pode se apresentar como alguém de fora da política. Seu nome chegou a ser cogitado em 2018, mas ele não quis se candidatar.

João Doria

Desde que entrou para a política, o governador de São Paulo, João Doria, tem como meta disputar a Presidência da República. Já apoiou Jair Bolsonaro em 2018, estimulando o voto BolsoDoria, mas hoje faz questão de se colocar como principal oponente ao mandatário do Palácio do Planalto. Doria tem boa relação com partidos de centro no Congresso, mas teria dificuldade de reunir nomes de centro-esquerda em uma chapa. Ciro Gomes, por exemplo, descarta participar de uma aliança com sua presença. Sua crescente rejeição em São Paulo é mais um obstáculo. Em campanha à prefeitura da capital, Bruno Covas, colega de partido, esconde o apoio do governador à candidatura tucana. Ao trazer DEM e MDB para a chapa de Covas, Doria tenta fazer o início de uma aliança em torno de seu nome para 2022. O governador mantém diálogo com Sergio Moro. Caso seja candidato, poderá ter mais condições de aglutinar forças de direita não bolsonaristas e da centro-direita.

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