Derrota
de Trump e agruras do 01 abalam confiança de Bolsonaro
Jair Bolsonaro é uma cobaia ambulante para qualquer
tese psicanalítica. Ontem, diante de tantos “eventos adversos graves” para si,
sua família e o seu projeto político, o presidente surtou. Como sempre acontece
com ele, esses surtos envolvem ao mesmo tempo decisões graves, com
consequências para o País, e arroubos que funcionam mais como cortina de fumaça
para tentar esconder suas fragilidades.
Vamos
separar o joio do trigo. Ou o joio do joio, pois não há trigo nesse silo.
No rol dos absurdos com graves consequências para o Brasil está a decisão da Anvisa de paralisar os testes da Coronavac por conta de um efeito adverso grave com um entre mais de 13 mil voluntários dos testes clínicos da vacina desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório Sinovac. Acontece que a morte desse paciente nada teve a ver com a vacina.
Sem
fazer questão de esconder o caráter puramente político da decisão, que
escancara o aparelhamento da agência, o presidente se arreganhou: “Mais uma que
Bolsonaro ganha”.
A
masculinidade frágil é um fenômeno que atinge homens heterossexuais inseguros,
que precisam a todo momento reafirmar sua superioridade. Ganha? O presidente
comemora vitória sobre seu adversário João Doria Jr. sapateando
desrespeitosamente nos cadáveres dos mais
de 162 mil brasileiros mortos pela covid-19, e especialmente no desse
paciente transformado em bode expiatório.
Como
esses surtos denotam justamente o contrário de “vitória”, vê-se que Bolsonaro
sentiu as derrotas recentes. A começar pela de Donald Trump, para a qual passou recibo na
“superterça” da alucinação. Numa solenidade oficial, buscou ajuda do
infalível Ernesto Araújo para dizer que Joe Biden, a quem chamou de postulante a
chefe de Estado (a negação é outra característica da psique bolsonarista)
estaria ameaçando nossa soberania e, nesse caso, não bastaria a diplomacia.
“Tem que ter pólvora, senão não funciona.” É de um ridículo de dar pena.
Não
faltou, claro, o tradicional comentário homofóbico, também recheado de desdém
com a morte. Diante das perdas para a covid-19, sapecou que temos de deixar de
ser “um país de maricas”.
Até
quando o Brasil terá de aguentar esse tipo de postura por parte de seu mais
importante mandatário?
Para
as bravatas e as grosserias que denotam a masculinidade frágil há pouco a
fazer, a não ser esperar as urnas e que a onda de racionalidade que ajudou a
varrer o trumpismo nos Estados Unidos sopre para cá.
Mas
a paralisia da pesquisa de uma de várias vacinas que podem nos livrar do
flagelo da pandemia é outra história. Nesse caso é urgente e inescapável que os
que têm prerrogativa ajam. É preciso que Ministério Público da União, Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Instituto Butantan ou entidades da sociedade civil
tomem a frente de uma ou múltiplas ações com pedido de cautelares no Supremo
Tribunal Federal para sustar a decisão da Anvisa.
Bolsonaro
e o almirante Antonio Barra Torres, o bolsonarista no comando da agência,
sabotam o combate à pandemia tendo como objetivo atingir um adversário
político. A fala do presidente é prova cabal contra si, e nela há vários
indícios de que ele recebeu informações que a agência não poderia lhe
fornecer.
E o Supremo precisa voltar a conter os ímpetos letais de um presidente atordoado por derrotas políticas, como o péssimo desempenho de seus candidatos a prefeito de Norte a Sul, o fim do sopro de popularidade do auxílio emergencial, a derrota do “amigão” na América e o agravamento das evidências de crimes variados por parte de seu filho Flávio. É um pacote pesado para quem tem masculinidade frágil, mas descontar na vida da população é crime de responsabilidade.
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