Das
disputas municipais saem fortalecidos o PSD, o MDB e o PP, segundo previsões
O
presidente Jair Bolsonaro cometeu um erro
essencial de política. Transformou um presságio em uma aposta do tipo cara ou
coroa. No fim, quedou-se paralisado, à espera de uma decisão por pênaltis que
não virá porque nem sequer consta do regulamento. Por este momento de
alucinação, torpor e instabilidade, Bolsonaro terá de operar uma desafiadora
metamorfose: transformar-se de radical raivoso em moderado condescendente.
Se
vai conseguir é o que veremos nos próximos meses. No momento, comporta-se como
reles perdedor em série. Perdeu com a vitória de Joe Biden e Kamala Harris. Perdeu com o revés de Donald Trump, um modelo pessoal e político.
Perdeu com o péssimo desempenho de seus candidatos nas eleições municipais.
Perdeu diante do impulso de reação dos seus adversários presidenciais, que
foram acordar logo agora, na sua maré baixa.
Isolado, o presidente consolidou a condição de maior refém do Centrão, sendo a única saída para sobreviver e ainda pleitear a reeleição. Por esta dependência presidencial, o Centrão se fortaleceu. Sobretudo porque sairá revitalizado das eleições municipais.
Para
avaliar o preço que o Centrão cobrará não é preciso ter imaginação. Seus
parlamentares sabem onde, quando e como tomar de assalto o governo. No restrito
grupo de aliados fanáticos do presidente ainda se ouvem apelos esparsos para
ele recrudescer nas atitudes de beligerância, fugindo, como sua matriz, à
realidade. Mas o Centrão vai pressionar em contrário. Acredita ser fácil
mostrar ao presidente que sua tropa é a última reserva de que ele dispõe.
Bolsonaro
não tem saída, certamente refletirá sobre as transformações a que deve se
submeter. As mais difíceis não estão relacionadas à troca dos ministros, que
ele poderá sacrificar, sem problemas, doando-lhes outras vantagens.
Terá,
porém, de redimensionar alguns caminhos. A importância da rede social como
instrumento principal de campanha se relativizou. Com a chegada da regulação
das empresas de tecnologia, que tiram mentirosos do ar, as redes deixaram de
ser espaço livre por onde circulavam, impunemente, a falsidade e o conflito.
Bolsonaro terá de reinventar o uso e abuso desses meios. Neste capítulo, o
difícil será atender a família, insaciável, permanente e agressiva. Desta não
dá para se livrar.
Não
colou, até agora, a tática de denúncia antecipada de fraudes na eleição. Trump
não conseguiu sensibilizar nem todo seu eleitorado e Bolsonaro vem denunciando,
sem sucesso, fraude na eleição que venceu, de 2018. Imagine-se o que fará numa
eleição que poderá perder. Desde sempre incentiva aliados a apresentarem
projetos para a volta do voto impresso. Renegando a tecnologia, cada vez mais
dominadora e irreversível.
E
o fantasma do comunismo? Não deu certo lá e não tem apelos mais fortes no
Brasil. Embora tenha feito sua carreira política em cima destas fixações,
Bolsonaro deve avaliar sobre como se livrar destes anacronismos que são a sua
essência.
É
impossível ter êxito num recuo tão radical em temas de que está impregnado o
seu cotidiano, mas pode tentar. A negação da ciência na pandemia, por exemplo,
exige-lhe revisão urgente, e ele insiste em politizar a vacina, a doença e a
morte. Como fez ainda ontem. Mudar seria uma guinada e tanto para Bolsonaro.
E
dele se exige que preste atenção aos fenômenos que, se não configuram nova onda
política, podem lhe servir de alerta. Os progressistas que se opõem ao seu
receituário estão ganhando todas na vizinhança. Além dos Estados Unidos, vimos
Argentina, Bolívia, o plebiscito do Chile e, bem antes, o México. É para
pensar.
Desde que se aproximou do Centrão, Bolsonaro tem alternado radicalismo e moderação. Das disputas municipais saem fortalecidos o PSD, o MDB e o PP, segundo as previsões para a votação no domingo. A colheita eleitoral desses partidos dará a dimensão precisa da transformação que Bolsonaro precisa realizar, se quiser se manter no poder.
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