Em
2020, a oposição se dividiu e perdeu na maioria das capitais. Uma exceção foi
Belém, onde Edmilson Rodrigues encabeçou uma frente de esquerda para conquistar
a prefeitura. O deputado do PSOL montou uma aliança com seis partidos,
incluindo o PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes. No segundo turno, venceu o
bolsonarista Delegado Eguchi, que dizia defender “valores da família e da
pátria”.
Foi
por pouco. Edmilson teve 51,7% dos votos, apenas 26 mil a mais que o rival. A
disputa repetiu o enredo de 2018, com acusações rasteiras no campo moral.
“Enfrentei uma campanha muito violenta. Disseram que eu construiria banheiro
unissex nas escolas, que as crianças poderiam trocar de sexo aos 9 anos de
idade”, conta o prefeito eleito.
A capital do Pará é uma cidade religiosa. Além de sediar o Círio de Nazaré, considerado a maior festa católica do mundo, assistiu ao nascimento da Assembleia de Deus, maior denominação evangélica do país. Sobrinho de pastor, Edmilson precisou desmentir boatos de que perseguiria os cristãos. No último debate na TV, o candidato do Patriota disse que o PSOL queria liberar as drogas e implantar a “ideologia de gênero”. O deputado ignorou a conversa e usou a réplica para falar sobre educação.
“Não
aceitei entrar na baixaria. Nosso desafio é mostrar que essas mentiras não
existem. Como prefeito, vou receber da mesma forma os bispos e os sacerdotes do
candomblé”, promete.
O
discurso anticorrupção também marcou a disputa. Licenciado da Polícia Federal,
Eguchi escolheu como vice um sargento da PM. “Ele foi advogado de madeireiras
acusadas de crime ambiental, mas usou o título de delegado para dizer que
combateria a corrupção. Com essa bandeira, já elegeram um miliciano para
governar o país”, diz o prefeito eleito. “Desde a Lava-Jato, há um clima de
macarthismo no ar. O ataque a Lula e ao PT virou arma para combater toda a
esquerda. Houve corrupção, mas também houve muita injustiça”, protesta.
Arquiteto
e professor universitário, Edmilson já administrou Belém entre 1997 e 2004, quando
era filiado ao PT. Depois da mudança para o PSOL, perdeu as eleições de 2012 e
2016. “Agora consegui juntar Haddad, Ciro, Boulos e Marina no mesmo palanque.
Sem essa unidade, não teria vencido”, reconhece.
A
ala mais radical do PSOL se opôs à frente, mas Edmilson conseguiu dobrar as
resistências. “Expliquei que não precisaríamos abrir mão de princípios para
ampliar o leque de alianças. E os companheiros que eram contra não criaram
obstáculo, como é comum na esquerda”, comemora.
Agora
o prefeito eleito quer que Belém sirva de exemplo na corrida presidencial de
2022. “Provamos que a esquerda unida pode derrotar o fascismo. Ninguém tem
direito de impôr uma derrota ao país por vaidade. O Lula tem que fazer
autocrítica, reconhecer que não é Deus. O Ciro também precisa ter mais
humildade”, afirma.
“A oposição precisa refletir com cabeça fria e pé no chão. Se não der para lançar uma só candidatura, não podemos repetir a luta fratricida de 2018, que inviabilizou a união no segundo turno. Os riscos são muito grandes. Vamos esperar o Bolsonaro destruir a democracia e impor um Estado autoritário?”, questiona.
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