Com
graves dúvidas sobre vacinas, o santo remédio para Bolsonaro é... reforma
ministerial
As vacinas mexem
com os nervos e o medo da população, tornam-se o maior desafio do governo e
serão um divisor de águas para o presidente Jair Bolsonaro, que, se você
prestar atenção, vai repetindo os antecessores Dilma
Rousseff e Fernando
Collor. É o remake de uma série que a gente já viu, capítulo por
capítulo, só que com personagens ainda mais absurdos, fantásticos.
Todos
os três presidentes nunca tiveram alguma intimidade ou cumplicidade com seus
vices, a quem qualificam de traidores. Assim como Dilma e Michel Temer,
Collor e Itamar Franco, Bolsonaro nem consegue mais ouvir falar
de Hamilton Mourão, que dá entrevistas sobre qualquer coisa,
fazendo uma clara contraposição a Bolsonaro e alternando concordância e
discordância com decisões do governo.
A história se repete com os ministros e com a forma de governar – ou de não governar. Todo presidente acuado, que erra muito e fica sob forte pressão da opinião pública e com medo de impeachment saca três fórmulas mágicas: cria um bunker com seu grupinho “leal”, abre os braços (e os cofres) para o Centrão de ocasião e lança uma reforma ministerial.
Dilma
se trancou no palácio com meia dúzia de gatos pingados que pensavam exatamente
como ela e deixou de fora até mesmo os lulistas do PT. Orelhas ardiam,
principalmente as do vice Temer e do ministro da Economia, a culpa era sempre
da mídia, o Centrão fazia a festa.
Collor, que se elegeu com a bandeira de “caçador de marajás”, descartou tudo isso junto com o seu PRN, jogou para segundo plano os coloridos de primeira hora e, num último e desesperado esforço para salvar o pescoço, tentou atrair Fernando Henrique Cardoso e o PSDB (que balançaram, mas não foram) e conseguiu Jorge Bornhausen e o então PFL. Era tarde demais.
Bolsonaro
vem fazendo o mesmo: desvencilhou-se das bandeiras de campanha, dos
bolsonaristas-raiz, do PSL e atracou-se ao Centrão. É hora de... reforma
ministerial. O primeiro time reuniu velhos amigos do capitão Bolsonaro na
caserna e do deputado Bolsonaro na Câmara, líderes de bancadas temáticas (como
a do agro) e pitadas de estrelismo: astronauta, um economista conhecido, o
ícone de Lava Jato. A segunda será mais pragmática.
Lêem-se
os nomes de Temer daqui, Davi Alcolumbre (Senado) dali, José Mucio (ex-TCU)
acolá. Não são nomes ao vento, isolados. Fazem parte do mesmo pacote dos sonhos
– ou da necessidade – de um Bolsonaro que pode ser tudo, mas não tem nada de
bobo na hora de pensar em si e nos filhos. Os candidatos são do DEM, MDB e até
PSDB.
Assim
como trocou neófitos por experientes nas lideranças e vice-lideranças do
Congresso, Bolsonaro agora articula trocar ministros que só dão problema por
gente conhecida, testada, capaz. Mais ou menos como ocorreu na eleição
municipal. Depois do fiasco do “novo” de 2018, volta o “experiente”. Inclusive
no governo.
Bolsonaro
apostou tudo na vitória de Arthur Lira e
do Centrão para a presidência da Câmara, contra Rodrigo Maia e
o centro ampliado. Se vencer com Lira, terá o que entregar às suas bases
eleitoral e parlamentar originais: armas, conservadorismo e recuos em costumes.
E reunirá força para atrair os tais nomes conhecidos, torcendo para não ser
tarde demais, como foi com Collor. Se Maia vencer, porém, o núcleo DEM, PSDB e
MDB ganha impulso para 2022 e um hábil articulador: o próprio Maia.
Em meio a tudo isso, há algo maior: a vida. Se falhar com a vacina, como falhou deploravelmente até agora em tudo o que diz respeito à covid (e não só), como Bolsonaro pretende atrair para ministérios quem respeita a vida, a ciência e a própria biografia? O sonho de Bolsonaro de fazer uma boa reforma ministerial e se reeleger em 2022 esbarra no pesadelo Bolsonaro. Assim como a própria reeleição.
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