A tentativa do presidente Bolsonaro - um tenente sindicalista que acabou saindo do Exército por questões disciplinares, promovido a capitão - de politizar sua relação com as Forças Armadas gerou uma nova crise interna. Ele reduziu, através de decreto, o critério para a promoção do último posto das Armas - coronéis do Exército e da Aeronáutica, e Capitães de Mar e Guerra. Em vez de promoção também no Quadro de Acesso por antiguidade (QAA), as promoções passariam a ser apenas por merecimento (QAM - Quadro de Acesso por Merecimento).
Houve
reações internas, pois a promoção apenas por merecimento poderia ensejar uma
decisão política do presidente da República, que é quem dá a última palavra.
Três dias depois o decreto foi cancelado, voltando tudo ao que era antes. O
presidente Bolsonaro cultiva desde sempre o relacionamento com os militares,
primeiro para ganhar votos especialmente das patentes inferiores, pois defendia
os interesses da classe no Congresso, o que lhe garantiu sete mandatos de
deputado federal seguidos.
Na presidência da República, aparelhou seu ministério e os demais órgãos do governo com militares de diversas patentes, da ativa e da reserva. Boa parte sem qualificação para os cargos que ocupam, como o ministro da Saúde, General da ativa. E passou a prestigiar qualquer cerimônia militar, especialmente nas escolas de formação de oficiais.
No tempo em que acalentava abertamente ideias golpistas, vivia repetindo que contava com o apoio das Forças Armadas. Recentemente, houve um atrito diante das repetidas tentativas de politizar a questão militar. O comandante do Exército, General Pujol, aproveitou uma solenidade para deixar clara sua posição: “Nosso assunto é militar, preparo e emprego. As questões políticas? Não nos metemos em áreas que não nos dizem respeito. Não queremos fazer parte da política governamental ou do Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre em nossos quartéis.”
O
incômodo foi tão grande, com Bolsonaro fazendo questão de repisar que era o
Comandante em Chefe das Forças Armadas, que o ministro da Defesa, General
Fernando Azevedo e Silva viu-se obrigado a soltar uma nota oficial afirmando
que o presidente Jair Bolsonaro tem demonstrado "apreço pelas Forças
Armadas" e que esse sentimento "tem sido correspondido".
Curiosamente,
essa tentativa de interferir na estrutura interna das Forças Armadas para tirar
proveito político, pois Bolsonaro teria condições de nomear oficiais-generais
das três Armas mais alinhados à sua visão política, foi feita também pelo PT no
governo Dilma.
Um
decreto assinado por ela transferia para o Ministério da Defesa poderes dos
comandantes militares, entre esses a promoção aos postos de oficiais
superiores; designação e dispensa de militares para missão de caráter eventual
ou transitória no exterior; nomeação e exoneração de militares, exceto
oficiais-generais, para cargos e comissões no exterior criados por ato do
presidente da República; poder de transferir para reserva remunerada oficiais
superiores, intermediários e subalternos, bem como a reforma de oficiais da
ativa e da reserva e de oficial- general da ativa, após sua exoneração ou
dispensa de cargo ou comissão pelo presidente da República.
Na
ocasião, o então deputado federal Jair Bolsonaro denunciou da tribuna que o
objetivo real do decreto era interferir na formação dos oficiais das três
Armas. Isso porque o art. 4 º do texto revogava o decreto n º 62.104, de 11 de
janeiro de 1968, que delegava “competência aos ministros de Estado da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica para aprovar, em caráter final, os regulamentos
das escolas e centros de formação e aperfeiçoamento respectivamente da Marinha
de Guerra, do Exército e da Aeronáutica militar”.
Ao
revogar o decreto de 1968, essa função passaria automaticamente para o
Ministério da Defesa, que teria em suas mãos um poder de controle sobre a
formação e a promoção de oficiais-generais. Como agora, o decreto foi cancelado
por outro.
Mas, um documento oficial do PT após a vitória de Bolsonaro para a presidência da República afirmava abertamente que um dos erros do partido quando esteve no poder foi não interferir no currículo das escolas de formação dos militares.
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