Governador
acena com vacina na rua em 40 dias
Trinta
e oito graus sobre terra queimada. É Carnaíba, no sertão, a 400 quilômetros do
Recife. Lá vivem 19 mil pessoas aturdidas pelo vírus, mas fiéis à esperança de
proteção. Médico e prefeito, José de Anchieta Patriota (PSB) se cansou do
desgoverno federal. Entrou no Instituto Butantan e saiu com a reserva de 40 mil
doses da vacina CoronaVac.
Ontem,
a lista do Butantan abrigava 912 prefeituras, 13 estados mais os governos de
Argentina, Chile, Peru e Honduras. A romaria ao laboratório cresce. O início da
vacinação em São Paulo está marcado para 25 de janeiro, feriado pelos 466 anos
da construção do barraco pioneiro da capital paulista, obra dos jesuítas Manuel
da Nóbrega e José de Anchieta.
É essa a mudança relevante na perspectiva política. Faz diferença quem chega antes com respostas objetivas à ansiedade pandêmica. O governador João Doria (PSDB) acena com vacina na rua em 40 dias.
Em
contraste, depois de nove meses Jair Bolsonaro não tem vacina nem seringas —
corre atrás de 331 milhões, mas vai precisar de 600 milhões. Mandou ao STF um
plano sem data ou quantidade de pessoas nas fases de vacinação. Enviou ao
Congresso um orçamento com déficit na Saúde (R$ 40 bilhões em 2021), sem prever
gasto com imunizantes.
Diretores
da Pfizer tomam chá de cadeira na Saúde desde abril, mas sua vacina já é usada
nos EUA. O Butantan ainda espera resposta às três cartas que enviou no primeiro
semestre oferecendo a CoronaVac.
A
romaria de governantes a São Paulo evidencia fadiga com a inépcia. Bolsonaro
acabou enlaçado por Doria e cercado em Brasília. O Supremo exige-lhe um plano
consistente. O Ministério Público liberou estados e municípios na procura de
solução, diante da omissão federal. O Congresso prepara lei para a imunização,
legitimando o uso da CoronaVac.
Restou a aposta no socorro da agência reguladora, que não oculta disposição de vetar ou atrapalhar a “vacina do Doria”. É risco puro, porque o Congresso já engatilhou uma CPI da Anvisa. Ela, inevitavelmente, empurraria Bolsonaro no precipício que ele tanto contempla.
Nenhum comentário:
Postar um comentário