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A fissura de Bolsonaro por informações sigilosas
Está para nascer um novo ministério, e logo no governo do presidente da República que prometera enxugar a máquina pública. Naturalmente não se chamará Ministério do Grampo como extraoficialmente começa a ser chamado pelos que assistem de perto ao processo de parto que já começou.
Deverá chamar-se Ministério da Segurança Pública, como no passado. Foi criado pelo então presidente Michel Temer assim que ele decretou a intervenção militar no aparelho de segurança do Rio devido a mais um surto de violência urbana. Fundiu-se com o Ministério da Justiça por exigência do ex-juiz Sérgio Moro.
Pois do Ministério da Justiça será tirado para agradar à bancada da bala, um grupo de deputados federais evangélicos do Centrão que cobra a providência desde que Bolsonaro tomou posse. Mas não só por isso. O novo ministério agradará também aos policiais militares e bombeiros que votaram em peso em Bolsonaro.
E ao próprio Bolsonaro, fissurado em informações sigilosas sem as quais, segundo ele, é impossível governar. PMs e bombeiros formam um contingente de 470 mil homens que votaram em peso no presidente e a ele são leais. É mais do que o contingente de homens das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica.
“Quem fez a campanha (para eleger Bolsonaro) foram os PMs e bombeiros. Na hora de virar chefe, viraram (ministros) os comandantes das Forças Armadas”, disse o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Já passou da hora de Bolsonaro retribuir a ajuda.
É fato que as PMs são representadas no governo por um major da reserva, Jorge Oliveira, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e ao menos 44 oficiais que ocupam cargos de confiança nos demais escalações da administração federal. Mas os representantes das Forças Armadas são em número muito maior.
O nome mais cotado para ministro da Segurança Pública é o do ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), amigo há mais de 20 anos de Bolsonaro, e que costuma reunir-se com ele em quase todos os fins de semana. Ocorre que os ministros militares não gostam de Fraga justamente por causa de sua intimidade com o presidente.
Se o novo ministério de fato vier à luz, é possível que abrigue, entre outros órgãos, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal que o ministro André Mendonça, da Justiça, não gostaria de perder. Ele se empenha por mantê-las sob seu comando. Receia que a transferência, na prática, esvazie o seu ministério.
Um ministério para cuidar da segurança pública traria outra vantagem para Bolsonaro: acesso às informações do serviço secreto das PMs. Agência Brasileira de Inteligência + Polícia Federal + Polícia Rodoviária Federal + PMs, seria informação direta na veia e um aparelho formidável de intimidação.
Fala de Gilmar Mendes causa indigestão aos comandantes militares
Resposta do ministro da Defesa desagradou aos seus pares
Por ora, pelo menos, não convidem para a mesma mesa os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Se Gilmar não estivesse de férias em Portugal, até que ele o general Fernando Azevedo, ministro da Defesa, poderiam sentar à mesma mesa.
Azevedo já trabalhou no Supremo Tribunal Federal como assessor do ministro Dias Toffoli por indicação do general Eduardo Villas Boas, então comandante do Exército. De resto, por seu temperamento, Azevedo é mais conciliador, jeitoso. Mas nem ele digeriu bem o que Gilmar andou dizendo no fim de semana.
Em palestra no último sábado, Gilmar disse ao comentar o fato de um general (Eduardo Pazuello) estar como ministro interino da Saúde há mais de 25 dias: “Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável”.
Azevedo respondeu de forma indireta e elegante, citando em detalhes todas as ações das Forças Armadas no combate ao Covid-19. Mas a resposta não agradou aos comandantes militares. Eles e Azevedo chegaram a redigir uma nova nota, essa em termos duros. Mas ainda não a divulgaram. Não se sabe se divulgarão.
Ontem, na sua conta no Twitter, Gilmar publicou duas mensagens. Na primeira, escreveu:
“No aniversário do projeto que leva o nome de Rondon, grande brasileiro notabilizado pela defesa dos povos indígenas, registro meu absoluto respeito e admiração pelas Forças Armadas Brasileiras e a sua fidelidade aos princípios democráticos da Carta de 88.”
Na segunda:
“Não me furto, porém, a criticar a opção de ocupar o Ministério da Saúde predominantemente com militares. A política pública de saúde deve ser pensada e planejada por especialistas, dentro dos marcos constitucionais. Que isso seja revisto, para o bem das FAs e da saúde do Brasil.”
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