Os
caciques do MDB “cristianizaram” a senadora Simone Tebet (MS), que se lançou
candidata avulsa à Presidência do Senado, sem o apoio formal da bancada
Mineiro
de Sabará, Cristiano Monteiro Machado foi prefeito de Belo Horizonte no final
da década de 1920. Partidário da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao
poder, conquistou uma cadeira na Assembleia Nacional Constituinte em 1933.
Renunciou ao mandato em 1936, para ser secretário de Educação e Saúde Pública
de Minas Gerais, no governo de Benedito Valadares. Deixou o cargo no início de
novembro de 1945, em decorrência da deposição de Getúlio Vargas (29/10/1945) e
do consequente fim do governo Valadares. Filiado ao recém-fundado Partido
Social Democrático (PSD), foi eleito deputado à Constituinte de 1946.
Em
15 de maio de 1950, Cristiano Machado foi lançado candidato à Presidência da
República pelo PSD nas eleições que se realizariam em outubro. Entretanto, a
ala getulista do PSD do Rio Grande do Sul era favorável à indicação de Nereu
Ramos e se recusou a aceitar Cristiano como candidato. Logo depois, membros do
Partido Social Progressista (PSP), de Ademar de Barros, comunicaram ao PSD que
não apoiariam Cristiano. A candidatura de Getúlio Vargas, do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), já estava sendo articulada e viria a ser apoiada
por Ademar. Mesmo com o PSD dividido, Cristiano foi aclamado na convenção
nacional do partido. Coube ao Partido Republicano (PR) indicar Altino Arantes
para a vice-presidência. Cristiano ainda fez uma aliança com Hugo Borghi,
candidato ao governo de São Paulo pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN).
Nas eleições de 3 de outubro de 1950, Cristiano Machado concorreu com o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) e Getúlio Vargas (PTB). Vargas teve uma vitória acachapante, inclusive, nos redutos eleitorais do PSD. A transferência dos votos de Cristiano para Vargas caracterizou um processo de esvaziamento eleitoral que ficou conhecido no jargão político como “cristianização”. Passou a ser uma marca registrada do MDB nas eleições para presidente da República, sempre que a legenda lançou candidato, com aconteceu com Ulyssses Guimarães (1989) e Orestes Quércia (1994).
Ontem,
no Senado, os caciques do MDB “cristianizaram” a senadora Simone Tebet (MS),
que se lançou candidata avulsa à Presidência da Casa, depois de perder o apoio
formal da bancada. Pesaram na balança a maioria dos senadores do PSDB e do PT,
que apoiam o candidato governista Rodrigo Pacheco (DEM-MG), numa articulação
bem-sucedida do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), aliado incondicional do
presidente Jair Bolsonaro. Havia uma expectativa de reversão desses apoios, o
que equilibraria muito a disputa, mas isso não ocorreu.
Ao
contrário da Câmara, que tem 513 deputados, as disputas no Senado são um jogo
de cartas marcadas, que se decide de véspera, muitas vezes, em razão do número
de senadores (81, três por unidade da Federação). Quando se consolida uma
maioria, isso tem um efeito desestabilizador para quem está em desvantagem. Foi
o que aconteceu com Tebet, com a decisão da bancada do MDB de não oficializar
sua candidatura e liberar seus integrantes para votar como quiserem.
A ocupação de espaços na Mesa Diretora do Senado e a situação eleitoral nos estados também costumam ter um peso decisivo no posicionamento de cada senador. Por exemplo, Eduardo Gomes e Veneziano disputam a primeira vice-presidência do Senado, que ficará com o MDB, porque a bancada abriu mão de apoiar Simone Tebet. Por fim, os dados estão lançados. E é sempre bom levar em conta que a votação secreta dá “uma vontade danada de trair”, como dizia Tancredo Neves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário