‘Tragédia’ da saúde, ‘urgência’ da Câmara, ‘galhardia’ de Guedes e roleta-russa de Bolsonaro
O
Brasil vive “uma tragédia”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e uma
sucessão de notícias asfixiantes em várias frentes: pandemia, desemprego,
estatais, mercado, Congresso, Judiciário e, no centro de tudo, o Executivo. Não
satisfeito em atacar até as vacinas, o presidente da República, Jair
Bolsonaro, coroa esse resumo do caos combatendo as... máscaras!
Com
uma nova variante mais voraz e o recorde de 1.582 mortos em 24 horas, as vagas
de UTI esgotam-se no sistema público e privado por toda a parte. Sem saída,
governadores decretam formas de lockdown de resultados incertos. E as vacinas?
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta resume: o vírus se espalha de Ferrari, as vacinas chegam de carroça.
Se não há mais ministro na Saúde, deixou de haver na Economia. Paulo Guedes está asfixiado como o povo de Manaus, mas se contenta com os elogios de Bolsonaro à sua “galhardia” e assiste impassível ao desmanche da sua política econômica e de sua equipe. Sérgio Moro demorou muito, mas tinha um limite: a intervenção na PF. Guedes passou do ponto: a intervenção na Petrobrás.
Não bastasse a pandemia, a economia sofre o temor de politização das estatais e da definição de preços, com Bolsonaro rasgando definitivamente a fantasia liberal. E lá se vai o presidente do Banco do Brasil, enquanto o governo lança as privatizações dos Correios e da Eletrobrás como isca. Morde quem quer.
Na
semana passada, houve dois anúncios: R$ 59,9 bilhões de lucros da Petrobrás no
último trimestre de 2020 e o salto da média anual de desemprego para 13,5% em 2020. Bolsonaro demite, humilha
e transforma em
vilão nacional o presidente da companhia que dá a boa notícia.
E não diz nada sobre a má notícia e os milhões de desempregados.
Com
falta de vacinas, leitos, empregos, auxílio emergencial e comida na mesa, o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, referiu-se ao “senso de urgência” da
Câmara, que aproveitou a “tragédia” citada pela OMS, ou as várias tragédias da
nossa realidade, para tentar mudar rapidinho a Constituição, sem ritos,
comissões e debates. Intenção: blindar os parlamentares contra a polícia, a
Justiça e as leis, como prêmio por manterem o outsider Daniel Silveira na
cadeia. Ato falho ou ironia de Pacheco?
A
boa notícia é que, se Bolsonaro assume e mantém o que qualquer idiota escreve
no Twitter, o Congresso é suscetível à pressão de fora. O presidente da Câmara,
Arthur Lira, foi obrigado a recuar, no conteúdo e na forma, amenizando os
termos da “PEC da Impunidade” e criando o que deveria ter criado desde o
início: uma comissão especial para o tema.
O
mesmo ocorreu no Senado, onde tentaram a desvinculação das verbas de Saúde e
Educação para financiar o auxílio emergencial. Diante da gritaria tão
ensurdecedora quanto na “PEC da Impunidade”, voltaram atrás. Mas, atenção! Tem
mais jabuti nessas árvores frondosas e um deles está na Câmara, prontinho para
devorar a Lei de Improbidade.
Em
meio a esse caos, onde estava o presidente da República? Atacando a gestão da
Petrobrás, que fazia a coisa certa. Ameaçando governadores que promovam
lockdown. Promovendo aglomerações sem máscara no Planalto e no Ceará. Sempre
indiferente às mortes e ao sofrimento de famílias, pacientes, médicos,
enfermeiros.
O cúmulo foi Jair Bolsonaro se pautar por algumas linhas de um lunático no Twitter para desacreditar as máscaras, que evitam contaminação e mortes no mundo inteiro. Se trabalha contra vacina, isolamento e até máscara, o que ele quer? Assistir de camarote a uma roleta-russa com todos os brasileiros, em que muitos milhares morrem, sabe-se lá quantos têm sequelas graves e o Brasil afunda. Há algo aterrorizante nisso aí.
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