Nota
para intimidar o Supremo Tribunal Federal era mais incendiária do que foi
Reverenciado pela oposição e a
mídia como um líder moderado e defensor da democracia à sua época de comandante
do Exército, o general Eduardo Villas Bôas conta em livro de memórias que a
nota que divulgou em abril de 2018 para coagir o Supremo Tribunal Federal a não
beneficiar Lula era mais incendiária na versão original. Deixou de ser por
pressão de seus colegas.
No dia 4 de abril daquele ano, a seis meses do primeiro turno da eleição presidencial, o Supremo julgaria uma ação que, se aceita, revogava a possibilidade de prisão de condenado em segundo instância. Lula já fora condenado em segunda instância no processo do tríplex do Guarujá. Se o Supremo recusasse a ação, ele poderia ser preso e ficar impedido de concorrer com Bolsonaro.
A versão suavizada
da nota de Villas Bôas, postada no Twitter na véspera do dia do julgamento, foi
uma clara advertência aos ministros do Supremo: “Nessa situação que vive o
Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando
no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com
interesses pessoais?”
E concluía sem ter
o cuidado de disfarçar a intenção golpista do seu autor: “Asseguro à Nação que
o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem
de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à
democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”. Imagine
a versão abortada da nota original…
Uma vez que o Supremo, por 6 votos
contra 5, manteve a prisão de condenado em segunda instância, Lula foi preso e
levado para Curitiba em 7 de abril, ali permanecendo por 580 dias. Liderou as
pesquisas de intenção de voto até meados de agosto. Apoiou então a candidatura
de Fernando Haddad. Bolsonaro venceu Haddad no segundo turno. Villas Bôas e os
generais celebraram a vitória.
Missão que se
propuseram (evitar que a esquerda voltasse ao poder), missão cumprida com
êxito! Villas Bôas reconhece que Lula como presidente foi generoso com as
Forças Armadas dando-lhes dinheiro para a compra de equipamentos. Critica Dilma
por ter instalado a Comissão Nacional da Verdade que investigou casos de
tortura e de mortos pela ditadura militar de 64.
A ojeriza dos
militares brasileiros à esquerda é uma questão ideológica que data do início do
século passado. A revolução comunista russa foi em 1917. O Partido Comunista do
Brasil é de 1922. Em 1935, uma intentona comunista tentou depor o governo de
Getúlio Vargas, mas fracassou. Na 2ª Guerra Mundial, militares brasileiros e
comunistas russos lutaram contra Hitler.
Logo depois começou
a chamada Guerra Fria entre os Estados Unidos e seus aliados, um deles o
Brasil, e a União Soviética e seus aliados. Capitalismo x comunismo. A União
Soviética desmoronou em 1991. O mundo tornou-se unipolar. A China se diz
comunista, mas é tão capitalista quanto os Estados Unidos e, em breve, sua
economia será a maior do planeta.
O comunismo, hoje, resiste em Cuba, na Coreia do Norte e onde mais? Serve de espantalho a governantes autoritários que querem se perpetuar no poder, e aos seus apoiadores, fardados ou não. Serve também de aríete para corroer a democracia mundo afora.
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