Como no caso da crise do DEM, a crise do PSDB é mais uma vitória
de Jair Bolsonaro
Na semana
passada, o PSDB resolveu fazer uma dessas coisas que tucano faz e isolou João Doria. Isso, o cara que comprou a vacina, o único
tucano com um trunfo eleitoral para 2022.
Como
resultado desse isolamento, Doria pode ficar sem a legenda do PSDB para
concorrer em 2022. Se isso acontecer, o único sucesso de políticas públicas do
Brasil desde a eleição de Bolsonaro —a compra das vacinas pelo estado de São Paulo—
pode não ter qualquer peso na eleição presidencial de 2022.
Um dos fatores que parecem ter precipitado a briga foi a tentativa de Doria expulsar Aécio Neves, aquele do Joesley. Doria queria expulsá-lo porque Aécio seria um dos incentivadores dos tucanos que traíram a candidatura de Baleia Rossi na eleição da Câmara. Perdeu a briga. Aécio ainda controla uma máquina fisiológica em Minas Gerais, e, neste caso específico, estava defendendo o direito de os deputados se venderem, algo que a turma leva bastante a sério.
Além
disso, uma ala do PSDB lançou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite,
para disputar com Doria a candidatura de 2022. Leite começou a disputa
afirmando que o PSDB não deve fazer oposição “sistemática” a Bolsonaro.
Foi uma
declaração desastrosa. Ninguém discute que os tucanos podem apoiar as propostas
de Guedes, mas abster-se de fazer oposição dura a Bolsonaro é perdoar o
autogolpe, é perdoar as mortes da pandemia, é defender uma impunidade muito
pior do que a que foi negociada no acordão que encerrou a Lava Jato. Leite, um
político jovem, não precisava dessa declaração no currículo.
Como no
caso da crise do DEM, a crise do PSDB é mais uma vitória que Jair Bolsonaro conquistou por
ter ganho o Congresso para Arthur Lira. Mas a cabeça de Doria é um prêmio muito
maior do que a de Rodrigo Maia.
O
governador de São Paulo é o principal desafiante de Bolsonaro já no ringue.
Tinha o trunfo da vacina, que, vamos repetir, é o trunfo que todo mundo queria
ter: a vacina salva vidas. Só a vacina vai trazer a normalidade de volta, só
com normalidade teremos crescimento econômico de novo. E todos sabemos que
Bolsonaro só começou a comprar vacinas para competir com Doria.
Enfim,
morreu de vez o argumento dos tucanos que dizem que votaram no Bolsonaro porque
do outro lado era o PT. Não foram capazes de tomar uma posição clara contra
Bolsonaro nem quando do outro lado eram eles mesmos.
Primeiro
o DEM, depois o PSDB, o que sobrou do tal centro democrático? Ele existe?
Talvez não. Talvez ele sempre tenha sido a direita incomodada com o fato de que
Bolsonaro não havia lhe entregue nacos suficientemente grandes do governo, do
orçamento, do poder.
Acho cedo
para cravar esse diagnóstico. A popularidade de Bolsonaro é baixa para o padrão
histórico de presidentes nesta altura do primeiro mandato. Se toda a rejeição a
Bolsonaro fosse de esquerda, o segundo turno de 2022 seria entre Ciro e Haddad.
Como isso não parece provável, imagino que haja, sim, um setor do eleitorado
que é mais ou menos de centro e é contra Bolsonaro.
Se esse eleitorado existir, Luciano Huck pode herdá-lo sozinho. Não seria surpresa, aliás, se descobríssemos que os partidários de Huck no PSDB estavam entre os que manobraram para neutralizar Doria. Se não manobraram, certamente lucraram com a manobra.
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