Thiago Prado / O Globo
RIO — No domingo, dia 7, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ) desembarcou no Rio para um encontro com o apresentador Luciano Huck.
Ao deputado, interessava alinhar os seus rumos após a eleição do deputado
Arthur Lira (PP-AL) para sucedê-lo e a briga pública com o ex-prefeito de
Salvador ACM Neto (DEM-BA). A Huck, era importante ouvir um dos muitos
interlocutores que passou a ter na política nos últimos tempos devido às
articulações para se lançar candidato ao Planalto no ano que vem.
Desde 2018, quando seu nome já havia sido especulado para a disputa
que elegeu Jair Bolsonaro, o apresentador tem relações explícitas com PSDB, DEM
e Cidadania (na época chamado de PPS). O GLOBO apurou que, nos últimos meses, o
apresentador também já abriu canal com PSB, Podemos e PSD como possibilidades
para 2022. Ele até agora não indicou, entretanto, se de fato entrará na
política e se adotará um perfil de centro-esquerda ou centro-direita.
Na conversa com Maia, Huck ouviu que o DEM não poderia mais
hospedar um projeto antibolsonarista diante do alinhamento da bancada baiana na
vitória de Lira na Câmara — dias depois, ACM Neto telefonou para o apresentador
negando a informação. Naquela noite, o ex-presidente da Câmara queria saber dos
planos de Huck e contou ao apresentador as suas duas principais hipóteses
quando deixar o DEM: filiar-se ao PSL, dono de milionário fundo partidário; ou
migrar para o PSDB de João Doria. Liderar uma fusão de Cidadania, Rede e PV,
noticiado como possibilidade durante a semana, está em segundo plano para Maia.
A ex-senadora Marina Silva resiste a dar fim ao Rede; já o PV vive uma crise
interna com parte da sigla tentando desalojar do poder o presidente José Luiz
Penna.
Huck mais uma vez não se comprometeu com respostas concretas a Maia. Tem sido este o conselho dado pelo seu principal consultor político, o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. O ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, exerce o mesmo papel na área econômica. O apresentador considera que haverá dois momentos de tomada de decisão: a entrada na política, por volta de setembro deste ano, quando o cenário econômico e social estará mais claro; e a filiação partidária no primeiro semestre de 2022 apenas.
Projeção de cenários
Hartung e Huck têm olhado com lupa todas as pesquisas recentes
para decidir os próximos passos. O ramo das sondagens interessa tanto ao
apresentador que ele abriu sua agenda em 5 de fevereiro para uma conversa com
Murilo Hidalgo, dono do Paraná Pesquisas. Diante dos dados, o ex-governador do
Espírito Santo projeta o seguinte cenário para Huck organizar o futuro:
Bolsonaro perderá popularidade ao longo do ano. Mesmo criando um novo auxílio,
o valor jamais será próximo aos R$ 600 pagos em 2020, o que alimentará a
frustração de parte do eleitorado. Com o poder da máquina, Hartung imagina,
contudo, que o piso da avaliação ótimo e bom do presidente não cairá de 25%, o
que o tornará competitivo para estar no segundo turno em 2022.
A despeito da força do Planalto, pesquisas divulgadas neste início
de ano, especialmente uma do Datafolha de janeiro, animaram Huck e o seu
entorno. Em um índice de confiabilidade de figuras públicas brasileiras, o
apresentador apareceu na frente do governador de São Paulo, João Doria, com
ativos eleitorais que há tempos os tucanos encontram dificuldades de ter:
entrada no Nordeste e na população de baixa instrução.
Baixos índices
Hartung chegou a fazer uma análise para Huck no fim do ano
passado: a vacina Coronavac, do Instituto Butantã, poderia equivaler ao Plano
Real para FH em 1994. Quase um mês depois do início da imunização no país, os
índices de popularidade de Doria pelo Brasil profundo patinam. Os baixos
números do governador de São Paulo coincidem com o movimento que ocorreu na
semana passada no PSDB, de lançamento da pré-candidatura presidencial do
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
No campo do que se convencionou chamar de centro na política
brasileira, uma análise de Huck e seu entorno é diferente de praticamente todo
o mundo político: o ex-juiz Sergio Moro ainda pode, sim, ser candidato devido
aos seus altos e resilientes (embora em queda) índices de popularidade. Com
Moro na urna, Huck estará fora do jogo de 2022.
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