O Estado de S. Paulo
Como tantas lives, foi instrumento
eleitoral onde o presidente esconde a realidade do País. Investiu na fantasia
do complô e não entregou nada além do que está no zap das suas redes.
Verdade que nada disso importa ao
negacionismo nacional, mas os dados do TSE são transparentes, estudiosos os
acompanham em detalhe, há fiscalização de candidatos e partidos, observadores
internacionais; tudo pode ser auditado, sim. A acirrada concorrência na
imprensa não facilitaria silêncios e conluios. Eventos isolados não constroem
um fato; nunca se constatou algo relevante. Ainda assim, depois de muito
cobrado, Jair Bolsonaro se dispôs a apresentar sua “bomba” contra a Justiça
Eleitoral.
A expectativa era mais de forma que de conteúdo: a versão acima dos fatos. E não foi bomba, foi traque. Como tantas lives, foi instrumento eleitoral onde o presidente esconde a realidade do País. Exibiu falsos brilhantes, silogismos, falou em nome de um povo que supostamente o apoia, mas que as pesquisas não comprovam. Investiu na fantasia do complô e não entregou nada além do que está no zap da sua rede.
Tática de escolher um inimigo, atacou o ministro Luís Roberto Barroso. Fez ilações, mas não apresentou provas. Impedida de contestá-lo, a imprensa séria rejeitou a isca e não lhe deu palco. Aos seus fanáticos, sobraram farrapos e desculpas para que contestem, preventivamente, as urnas em 2022.
Até porque não lhes importa a irrefutabilidade
das afirmações, reúnem cacos inverossímeis para construir realidade paralela. A
partir disso, aprofunda-se o conflito político. Com o ouro de tolo apresentado,
semeia-se confusão que, talvez, favoreça o presidente. Contudo, nada é
original. Essa pedra bruta já esteve nas mãos de Donald Trump.
Fraude eleitoral é crime, atentado à
democracia e ao pacto político. Há mais de ano, Bolsonaro afirma saber de
crimes vinculados às eleições de 2018 – recentemente, também ao pleito de 2014.
Crimes que, em tese, seriam continuados pois, após isso, houve eleição em 2020.
Fica a questão: se houve fraude, o presidente se omitiu; se não houve, o
presidente não atentaria agora contra a eleição?
*Cientista político. Professor do Insper
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