sexta-feira, 30 de julho de 2021

Entrevista | Sergio Fausto: ‘É importante dar um sinal de unidade no campo democrático’

Sergio Fausto, cientista político e diretor executivo da Fundação FHC

Cientista político é cético quanto à competitividade dos nomes do centro; ele defende um canal de diálogo entre PT e PSDB

Pedro Venceslau, O Estado de S. Paulo

Diretor executivo da Fundação Fernando Henrique Cardoso e um dos dirigentes do projeto Plataforma Democrática, o cientista político Sergio Fausto defende que o PSDB e o PT mantenham um canal de diálogo para que os partidos possam estar juntos em um eventual 2° turno da eleição presidencial de 2022 caso o adversário seja o presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ao se encontrarem em maio, “deram um sinal claro de que, em que pese muitas diferenças entre as forças que representam, ambos estão no campo democrático.” Ao Estadão, Sergio Fausto disse ainda ser “cético” em relação à viabilidade de um candidato que represente uma terceira via na disputa pelo Planalto. 

Existem pré-candidaturas presidenciais já apresentadas por partidos do centro político. Qual a chance de alguma delas liderar a chamada terceira via?

Aos olhos de hoje, a probabilidade de surgir uma candidatura competitiva que aglutine todas as forças de centro, que vão do Ciro Gomes (do PDT) ao (Luiz Henrique) Mandetta (do DEM), é remota. 

Entre as opções apresentadas, acredita que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), é um nome viável?

Sou cético sobre o Doria ser esse nome, em que pese que, ao meu juízo, ele vem fazendo um bom governo em São Paulo. Ele não conseguiu até o momento agregar as forças políticas e ser visto como um ponto de convergência. Doria tem dificuldade em ultrapassar as fronteiras de São Paulo, e mesmo no Estado é um candidato que encontra resistências. Ele terá que fazer seus cálculos.

O que acha da proposta do semipresidencialismo?

Como sistema teórico experimentado em alguns países, como Portugal e Espanha, ele tem algumas vantagens sobre o sistema atual. Seria menos custoso e traumático lidar com crises. Mas tenho duas observações a fazer. A primeira é em relação ao timing. Seria um erro implantar no próximo mandato. Seria um pecado. Você não muda o sistema de governo na última hora. A segunda é que precisaria passar por um referendo popular para ter legitimidade.

Que leitura o sr. faz do encontro, em maio, entre ex-presidentes FHC e Lula?

Ao se encontrarem, eles deram um sinal claro de que, em que pese muitas diferenças entre as forças que representam, ambos estão no campo democrático.

Isso pode ser entendido como uma sinalização de que eles estarão juntos em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro?

Sim, e isso vale para os dois lados. Hoje tudo indica que o ex-presidente Lula estará no 2° turno, mas na hipótese de outro candidato do centro democrático enfrentar o Bolsonaro, espero que o PT o apoie.

O PSDB e o PT devem manter desde já canais de diálogo?

Neste momento é importante dar um sinal muito claro de que há unidade no campo democrático, que basicamente se define pela oposição ao campo liderado por Jair Bolsonaro. Dentro do campo democrático, eu espero que surja uma alternativa à candidatura colocada pelo PT na figura do ex-presidente Lula. Falar agora sobre um eventual apoio ao Lula ano que vem seria colocar o carro na frente dos bois.

Por que não aconteceu em 2018?

A política brasileira durante um longo período se estruturou na polarização entre PT e PSDB. O custo do apoio do PSDB à candidatura do PT seria bastante elevado. Parte desse eleitorado (tucano) deslizou para a direita e apoiou Bolsonaro já no 1° turno. Vamos lembrar que no 2° turno em 2018 o PSDB disputou o 2° turno para governador com chance de vitória em vários Estados onde o Bolsonaro havia tido votação expressiva. Isso gerou um custo eleitoral proibitivo para o PSDB. Além do que, as lideranças do partido já tinham feito um movimento à direita. Houve uma pressão muito grande sobre o presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem uma trajetória de centro-esquerda, para que ele apoiasse o Fernando Haddad. Mas para ele esse gesto teria um custo político importante, afinal ele é presidente de honra do partido, mas teria muito pouco efeito eleitoral. 

Para quebrar a polarização e voltar a ter protagonismo, o PSDB precisa voltar ao discurso antipetista?

Não contem comigo para isso, mas é provável que o candidato que surja no centro queira polarizar com o Lula. A esquerda terá um lugar no 2° turno. O antipetismo é um recurso eleitoral fácil, mas me parece um erro. 

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