Revista Veja
O Brasil precisa tomar o rumo da
racionalidade para ter sucesso
Na tese do copo d’água meio cheio, o Brasil
só não fracassou em termos. Estamos entre as maiores economias do mundo e somos
o segundo maior produtor de alimentos, entre outras façanhas. Mas existe o meio
copo d’água vazio, que, em algum momento, terá de ser preenchido. Ou nos
afogaremos em um país de fato fracassado.
Aos que têm recursos é fácil imaginar uma vida amena fora do Brasil. E, de lá, meter o pau no país, entre uma taça e outra de vinho. Mas a questão importa para os mais de 200 milhões de brasileiros, pelo menos, que não vão sair daqui, e nem sequer sabem o que é um passaporte. Devemos pensar neles.
Qual seria o caminho para incorporar milhões de brasileiros em uma nação potencialmente virtuosa? Devemos começar pensando que as soluções do passado não funcionaram. O tenentismo nos trouxe a estatização e terminou reforçando a supremacia do Estado sobre a sociedade.
O esquerdismo também não deu certo quando
se revelou reforçando a presença do Estado na economia. O centro, com uma
social-democracia mais equilibrada, foi capturado pela lógica financeira e
tributária, perdendo a chance de fazer revoluções sem grandes dores.
Em um afã “liberaleiro”, há quem queira
abrir as fronteiras para que produtos chineses destruam nosso parque industrial
no melhor estilo de Martínez de Hoz, que acabou com a indústria argentina. O
caminho do sucesso não deve ser nem “nacionaleiro” nem “liberaleiro”. Deve ser
racional. E a racionalidade nos aponta, com obviedade, o caminho do sucesso.
“O tenentismo nos trouxe a estatização e o
esquerdismo também não deu certo”
Para trilhar o caminho do sucesso devemos
respeitar fundamentos importantes. Quais? Vamos por partes. Garantir a
liberdade de empreender, já que a iniciativa privada, com todos os seus
defeitos, é o que gera dinamismo econômico. A liberdade de expressão deve ser
assegurada, pois a força da palavra traz questionamentos, aperfeiçoamentos e o
livre pensar.
A liberdade de cátedra deve ser garantida,
para bem ensinar de forma plural. Devemos renegar tanto o ensino enviesado e
“canhoteiro”, que predomina em nossas academias públicas, como a tentativa de
domesticar a aprendizagem por outros cânones ideológicos.
A partir desse entendimento, devemos
superar os obstáculos que nos amarram ao passado. O primeiro a ser removido é o
custo do dinheiro, que nada mais é do que papel pintado. Temos de ter
abundância de crédito. Em crise, os Estados Unidos nos dão o exemplo: injetam
dinheiro na economia, assim como a China.
O segundo obstáculo a ser encarado
refere-se à necessidade de simplificar o sistema tributário. O Brasil devia se
transformar em um paraíso fiscal onde pagar impostos seja tão fácil e barato a
ponto de a sonegação se tornar irrelevante.
O terceiro obstáculo a ser demolido reside
no custo do Estado: pensões e penduricalhos, entre outros gastos, devem ser
removidos por decisão judicial. São claramente inconstitucionais e uma penada
da Justiça pode eliminá-los.
O quarto obstáculo encontra-se no sistema
partidário e eleitoral, que termina por perpetuar o atraso. O caminho para
removê-lo é também pela via judicial, com o fim da fragmentação partidária e de
fundos eleitorais e partidários abundantes.
Enfim, o caminho do sucesso estará em outra
via, seja quem for nosso futuro presidente. E a construção de uma nova via
impõe uma reflexão sobre qual futuro desejamos para o Brasil.
Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749
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