O Estado de S. Paulo
Bolsonaro mexe as peças com objetivo de salvar o pescoço e garantir sua reeleição em 2022.
Goste-se ou não de Roberto Jefferson, o
polêmico político do PTB e do Centrão que detonou a crise do mensalão no
governo Lula, ele tem razão: a reforma ministerial do presidente Jair Bolsonaro
lembra a manobra de Fernando Collor para salvar o pescoço em 1992, quando mudou
o seu governo para ampliar a base de apoio no Congresso. No caso de Collor, foi
tarde demais. E no de Bolsonaro?
O fato é que foi uma decisão drástica entregar a “alma do governo” para o senador Ciro Nogueira, do PP, líder do Centrão e aliado do PT em 2018, quando chamava Bolsonaro de “fascista”. O Centrão está com tudo, os militares vão escorregando para o segundo pelotão e Paulo Guedes perde de nacos de poder para Onyx Lorenzoni construir sua campanha durante curtos – ou longos? – oito meses, até se desincompatibilizar para disputar o Governo do Rio Grande do Sul.
Onyx foi da Casa Civil, do Ministério da
Cidadania e da Secretaria Geral da Presidência, até Bolsonaro criar o
Ministério de Emprego para gerar um único emprego, o dele. E Guedes tinha um
latifúndio ministerial, mas nunca teve poder. Agora, não tem um nem outro. Seu ministério
vai continuar sendo fatiado para o Centrão e ele desliza para o ostracismo, não
pelo que não fez, mas pelo que insiste em fazer: engolir sapos em nome da
reeleição.
O argumento de Guedes é o mesmo dos
generais que insistem em se submeter ao capitão insubordinado: “espírito de
missão”. Heroico, mas não verdadeiro. Ele só fica pela sensação de poder e por
resistir a admitir a derrota, ao contrário do também “superministro” Sérgio
Moro, que demorou mais do que o razoável, mas mostrou que tinha limite. Guedes
não tem limite.
O governo virou comitê de campanha de
Bolsonaro, onde as peças se movem para salvar seu mandato e pavimentar o
caminho da reeleição. Ao atravessar a rua e ir para o Planalto,
Ciro Nogueira anula as chances do seu amigo
Arthur Lira abrir um dos 125 pedidos de impeachment, reforça a articulação com
o Senado e abre espaço para o filho “01”, Flávio Bolsonaro, virar suplente da
CPI da Covid com direito a palavra, impropérios contra a cúpula da comissão e
acesso direto a todos os documentos da CPI. Presentão para o papai.
Além de reformar a casa, melhorar os
alicerces governistas da CPI e penetrar mais firmemente no Nordeste (Ciro é do
Piauí e Lira, de Alagoas), Bolsonaro também cria vales e aumenta as bolsas para
o eleitorado mais pobre, e mais numeroso. De quebra, fideliza o núcleo duro do
seu eleitorado ao se assumir cada dia mais radical.
Vem daí a foto, às gargalhadas, com a líder
de um partido alemão xenófobo e de inspiração nazista, investigado no próprio
país por mensagens e práticas ilegais. Não é trivial presidentes receberem
deputados estrangeiros. Menos ainda, presidentes de países democráticos
receberem parlamentares antidemocráticos.
Além disso, o presidente deu a Michelle
Bolsonaro a medalha Oswaldo Cruz, para quem se destaca em ciência, educação e
saúde, e o governo comemorou o Dia do Agricultor com uma foto, não de um
trabalhador com sua enxada, mas de um jagunço com um rifle. Nem Michelle se
destaca em nenhuma dessas áreas, nem o sofrido agricultor é jagunço, grileiro,
desmatador, miliciano do campo. O governo estimula a guerra no campo?
O presidente também assinou um decreto para regulamentar a Lei Rouanet e, como tem sido um desastre para a Cultura, boa coisa não sai daí. E ele ainda não vetou o fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões, mas atendeu aos planos de saúde e vetou a lei que os obrigava a custear a quimioterapia oral para pacientes com câncer. É esse Jair Bolsonaro, o verdadeiro, que disputará voto na urna eletrônica em 2022.
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