O Estado de S. Paulo
A live do presidente Bolsonaro sobre as supostas
fraudes nas urnas eletrônicas mostra que se casar com ele significa levar todo
o combo bolsonarista junto. O Centrão imagina que possa ficar só com o lado bom
desse casamento: o comando de grande parte do Orçamento federal,
peça-fundamental para reeleger deputados e senadores desse grupo. Porém, existe
um outro lado: as teses malucas e autoritárias defendidas pelo bolsonarismo.
No fundo, a aposta política do Centrão envolve incorporar o que se poderia chamar de ‘Custo Bolsonaro’. Os políticos de partidos tradicionais da centro-direita que agora aliam-se ao presidente da República poderão ser, em alguma medida, identificados com os atos golpistas e extremistas do bolsonarismo. Três efeitos negativos podem advir disso. Primeiro e mais importante: alguns parlamentares do Centrão têm processos no STF e serão acompanhados pelo TSE durante a eleição de 2022. Aparecerem como incendiários da democracia os ajudará nestas arenas judiciais?
Em segundo lugar, esse discurso golpista
afastará a maior parte dos eleitores dos principais centros urbanos e de grande
parte da classe média, algo que se soma ao impacto negativo derivado da
condução da pandemia. Não será arriscado jogar fora todo esse eleitorado? Claro
que o casamento com Bolsonaro pode gerar bônus eleitorais junto aos mais pobres
por meio de um Bolsa Família turbinado e do clientelismo em obras públicas. Mas
em lugares como o Nordeste não será fácil tirar votos do lulismo, enquanto em
Estados comandados por adversários, como São Paulo, haverá programas sociais
para concorrer com o dinheiro federal do Centrão.
A consequência maior, no entanto, é que a
aposta do bolsonarismo no golpismo mobiliza um grupo muito coeso e disposto a
tudo. O Centrão acredita que pode moderar os arroubos bolsonaristas, e se isso
der errado, há tempo suficiente para pular do barco antes da eleição de 2022.
Mas tais lideranças da política tradicional se esquecem que se aliaram com quem
poderá ser amanhã o seu maior inimigo. Assim, um divórcio poderá não ser suficiente
para recuperar um eleitorado urbano e ainda gerar uma enorme dor de cabeça, com
extremistas xingando os políticos do Centrão pelas redes sociais e pelo país
afora.
* Doutor em Ciência Política pela USP e professor de Gestão Pública da FGV-Eaesp
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