Folha de S. Paulo
Respostas do STF e do TSE obrigam
presidente a abandonar estado de tensão controlada
Nenhum político forte precisa intimidar
ministros do Supremo Tribunal Federal ou avisar pelo rádio que pretende
desrespeitar a Constituição para pavimentar o caminho de um golpe de
Estado. Jair Bolsonaro decidiu exibir todas as suas fraquezas com a escalada
retórica que protagonizou nos últimos dias.
Sem interesse em governar, o presidente
trabalhou para fabricar uma crise completa. Atacou decisões do Judiciário,
ironizou o fato de ter se tornado investigado por espalhar mentiras sobre o
sistema eleitoral e mostrou que sua única alternativa de sobrevivência política
é forçar um conflito continuado até 2022.
O plano original de Bolsonaro era cultivar um estado de tensão controlada. Além da tentativa de sabotar a confiança dos eleitores na urna eletrônica, o presidente acoplou seu conhecido discurso de perseguição, com insinuações de que o Judiciário conspira para tirá-lo do poder. O roteiro era conhecido, mas a situação fugiu de seu controle.
O STF e do TSE encurralaram Bolsonaro ao
longo da semana. Na segunda-feira (2), o presidente se viu investigado por
ameaçar a realização das eleições e precisou simular um recuo estratégico:
afirmou que sua briga não era com os tribunais, mas apenas com o chefe da corte
eleitoral, Luís Roberto Barroso.
A encenação durou pouco. Dois dias depois,
quando Alexandre de Moraes decidiu investigar Bolsonaro no inquérito das fake
news, o
presidente foi para cima do ministro ("a hora dele vai
chegar") e declarou que preparava uma resposta “fora das quatro linhas da
Constituição”.
A ameaça obrigou o presidente do STF, Luiz
Fux, a abandonar sua mansa política de acomodação. O ministro disse que,
"quando se atinge um dos integrantes do tribunal, se atinge a corte por
inteiro" e cancelou
um encontro que teria com Bolsonaro.
O presidente sentiu. Em sua live semanal,
ele manteve ataques aos ministros e à urna eletrônica, mas tentou convencer Fux
de que não disse o que disse. Nos intervalos, voltou a falar bobagens sobre a
cloroquina.
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