sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Ricardo Noblat - Bolsonaro toca fogo e despacha bombeiros para apagar o incêndio

Blog do Noblat / Metrópoles

Ministros do Supremo perderam a disposição de fazer papel de bobo

É um truque que já não funciona, mas que o presidente Jair Bolsonaro sempre aplica toda vez que uma crise detonada ou agravada por ele o ameaça.

Engrossada, agora, com a aquisição do senador Ciro Nogueira (PP-AL), líder do Centrão e novo chefe da Casa Civil da presidência, a tropa de bombeiros entrou novamente em cena.

Quem tem relações com ministros do Supremo Tribunal Federal começou a procurá-los depois dos recentes ataques de Bolsonaro aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

O que acendeu a luz vermelha no Palácio do Planalto foi o duro pronunciamento do presidente do Supremo, Luiz Fux, em defesa dos seus pares e com críticas indiretas a Bolsonaro.

Os donos das mais prestigiadas togas da República conhecem o truque e já foram alvos dele no passado. Não parecem dispostos a se deixar enganar outra vez.

O enredo é sempre o mesmo: Bolsonaro não quis dizer o que disse; o que ele eventualmente disse foi tirado do contexto; são coisas da política e o presidente também deve satisfações aos seus devotos.

O antecessor de Fux na presidência do tribunal, o ministro Dias Toffoli, acreditou que poderia domesticar Bolsonaro ou pelo menos conter as manifestações dos seus instintos mais primitivos.

Foi Toffoli quem primeiro falou em um pacto dos três Poderes da República pelo bem do Brasil. Deu em nada. Fux o sucedeu embalado pela mesma ideia. Abdicou dela.

Ninguém no tribunal, salvo o ministro Nunes Marques que deve sua nomeação a Bolsonaro, imagina que ele mudará de postura. O trabalho dos bombeiros será bem-vindo, porém inócuo.

Por ora, voo rasante sobre o prédio do STF é uma ideia arquivada

A que ponto chega a insanidade de Bolsonaro ao sentir-se contrariado

Conta quem testemunhou a conversa e espantou-se com a sugestão feita pelo presidente Jair Bolsonaro ao então ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva.

Sexta-feira, 26 de março último. Em despacho com o general no Palácio do Planalto, Bolsonaro queixou-se do pouco engajamento das Forças Armadas no seu governo.

Foi uma conversa demorada. A certa altura, Bolsonaro passou a falar mal do Supremo Tribunal Federal que, segundo ele, cerceava a maioria de suas ações. Estava quase apoplético.

Então teve uma ideia: por que um dos jatos supersônicos da FAB não dava um voo rasante sobre o prédio do Supremo na Praça dos Três Poderes? Isso aconteceu uma vez no passado por acidente.

O voo rasante estilhaçaria os vidros do prédio como da vez anterior. Serviria como aviso aos ministros, e como acidente novamente seria tratado. O presidente falava sério.

O general discordou da ideia e, alegando cansaço, marcou para retomar a conversa na segunda-feira, dia 29. Nesse dia, mal entrou no gabinete de Bolsonaro, ouviu dele que estava demitido.

Em carta onde anunciou sua saída do governo, Azevedo e Silva escreveu como se fosse uma mensagem cifrada que só poucos seriam capazes de entender:

 “Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”.

Braga Neto, também general, sucedeu Azevedo e Silva. A pedido de Bolsonaro, sua primeira decisão foi demitir os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

A ideia do voo rasante sobre o prédio do Supremo foi arquivada, mas esquecida não.

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