O Globo
O encerramento dos Jogos de Tóquio vai
mudar a fauna dos personagens que desfilam no noticiário. Saem os atletas
olímpicos e seus relatos de superação. Voltam os mercadores de vacina e suas
histórias da carochinha.
A turma já reapareceu na CPI da Covid. Na
terça, os senadores ouviram o reverendo Amilton Gomes de Paula. Ele desistiu de
pescar almas para cavar negócios no Ministério da Saúde.
Falando de si na terceira pessoa, o pastor
se apresentou como um “embaixador mundial da paz”. Em seguida, enumerou
condecorações de entidades como a Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial
dos Godos de Oriente e a Ordem dos Cavaleiros de Sião.
“Quem me conhece sabe: lá na minha igreja,
eu tiro o sapato e dou para pessoas carentes”, elogiou-se. Apesar de tanto
desapego aos bens materiais, ele se envolveu numa negociação de 400 milhões de
vacinas com o governo.
O reverendo jurou que só tinha interesses humanitários. Para provar sua boa-fé, embargou a voz e forçou o choro. “Eu queria vacina para o Brasil”, declamou. A atuação deve ter despertado inveja no secretário Mario Frias.
Na quarta, a CPI ouviu o coronel Marcelo
Blanco, que integrava a tropa do general Eduardo Pazuello. Ele estava no jantar
da propina com o cabo Luiz Dominghetti, dublê de policial militar e camelô de
vacinas.
Blanco trocou 108 ligações com o PM, mas
disse não ter notado que falava com um estelionatário. Foi chamado de mentiroso
e cara de pau. “Ontem foi em nome de Deus, hoje é em nome do patriotismo. Nunca
em nome próprio”, ironizou a senadora Simone Tebet.
A semana terminou com o depoimento de
Airton Cascavel, outro homem de Pazuello. Ele se definiu com um “facilitador”
que tinha a tarefa de “fazer acontecer”. Mas não soube explicar por que dava
ordens sem ter sido nomeado no Diário Oficial.
Cascavel sofreu outros lapsos de memória.
Não se lembrou da médica negacionista que vivia no ministério e disse nunca ter
falado com o PM das vacinas. Desmentido com dados de seu próprio telefone,
gaguejou e mudou de assunto.
Enquanto milhares de brasileiros morriam
por falta de ar, o reverendo, o cabo e os coronéis faziam negócios em Brasília.
Em julho, Jair Bolsonaro disse que a capital sempre foi um paraíso de picaretas
e espertalhões. Pode ser, mas eles nunca foram tão bem recebidos.
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