Folha de S. Paulo
Deputados governistas veem ministro lento e
querem assumir parte da economia
Paulo Guedes foi convocado
pela Câmara para explicar os dinheiros que mantém lá fora.
Foram 310 votos a favor da malhação do ministro da Economia, 142 contra. Ainda
que tenha cumprido todas as formalidades, Guedes vai aparecer na mídia e nas
redes como o ministro ricaço que “não acredita no Brasil” e diz as barbaridades
de costume sobre pobres. É um sinal de desprestígio e de que parlamentares
querem tirar uma casquinha demagógica de um assunto que se tornou mais “pop” do
que o desgoverno da economia.
Mas há outros sinais relevantes de que a cabeça de Guedes está assando, embora não deva ser queimada por agora. O ministro vale mais como pato manco vivo do que morto.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, propôs
lei para diminuir o ICMS sobre combustíveis e, assim, talvez,
baixar os preços em alguns centavos. Lidera, pois, a campanha de Jair Bolsonaro
para jogar a culpa da carestia nas costas dos governadores, embora esse projeto
não seja do governo. É do governismo. Lira e companhia querem dar um jeito de
aumentar a “capilaridade” de Bolsonaro, como dizem deputados, e melhorar as
chances eleitorais da turma toda.
Paulo Guedes, diz esse pessoal, é muito
lerdo, confuso e não se deu conta da ansiedade crescente dos pré-candidatos à
reeleição para o Congresso. Lira conduziria a política da economia até 2022.
Além do caso dos combustíveis, pretendem resolver logo o financiamento do substituto do
Bolsa Família, o Auxílio Brasil, querem que o valor das emendas
parlamentares dobrem em relação ao que está na proposta de Orçamento para 2022
e mais dinheiro para obras.
Na frente política, os deputados querem
saber dos palanques de Bolsonaro, os arranjos políticos estaduais que organizem
a campanha dos parlamentares. O ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), presidente
do PP de Lira, tem sido criticado por se ocupar da filiação de Bolsonaro ao
partido e de viajar demais sem acertar “nenhum palanque".
E Guedes com isso? Parlamentares dizem que:
1) dificilmente Congresso derruba ministro da Economia; 2) “o Planalto” e, em
especial, Ciro Nogueira não querem barulho: querem tirar Bolsonaro do
noticiário negativo a fim de ver se a popularidade dele melhora; 3) um
substituto forte de Guedes teria de ser alguém de confiança de “o mercado”, o
que pode ser um problema para o plano de aumentar a “capilaridade” do governo
(uso de parte do Orçamento para a eleição).
Portanto, mais vale um Guedes pato manco do
que um Roberto Campos, presidente do Banco Central, por exemplo. Pedro
Guimarães, presidente da Caixa, de olho na cadeira vazia de Guedes,
é tido como “fominha”, apesar de amigão de Bolsonaro, e alguém que cria arestas
demais.
Sabe-se lá se o plano vai dar certo. Lira e
Nogueira não evitam derrotas e derrubadas de vetos na Câmara, menos ainda no
Senado, onde Bolsonaro tem oposição mais organizada e esperta, para nem contar
o bloco dos insatisfeitos com a falta de pagamento de emendas. Lira, no
entanto, ao que parece, resolveu assumir o programa de dirigir a aprovação do
Orçamento de acordo com os interesses “da base” e de prestigiar Bolsonaro.
Os economistas da praça financeira escrevem
em cada relatório que a economia, juros e dólar desandam por causa da
“incerteza fiscal” (calote em precatórios, gastos com auxílio, com emendas
etc.). Lira diz entre os seus que não vai chutar o pilar do teto de gastos, mas
que “a sociedade” e “a base” querem um Orçamento com “preocupação social”. Se
vai carregar Bolsonaro e até lhe dar um partido, precisa de compensação. Guedes
ficou de lado, assando.
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