quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Bruno Boghossian - Um desconto com o centrão

Folha de S. Paulo

Petista e presidente investem em candidaturas ao Congresso para reduzir dependência do bloco

Quando esteve no poder, Lula arquitetou alianças que uniam o velho PMDB e a nata de partidos do atual centrão nas votações de interesse do governo no Congresso. Em seu giro de pré-campanha por Brasília, o petista indicou que vai buscar um desconto na relação com esse bloco se for eleito novamente em 2022.

O ex-presidente pediu que o PT invista em candidaturas à Câmara e ao Senado no ano que vem. A ideia é formar bancadas mais fortes para que um eventual governo não dependa tanto de legendas que estão mais distantes da órbita da sigla.

Uma sequência de três presidentes fracos ampliou o custo das relações do Planalto com o Congresso. Dilma Rousseff ficou nas mãos da Câmara, Michel Temer abriu mão de sua influência para sobreviver a acusações de corrupção, e Jair Bolsonaro escancarou os cofres do governo para fugir do impeachment.

O centrão aproveitou esse ciclo para ampliar suas ferramentas de poder e assumir o controle do Orçamento. Os humores parlamentares sempre tiveram ligação com os recursos que fluem até suas bases, mas o apetite aumentou e não há sinais de que eles queiram negociar o cardápio com o próximo presidente.

Petistas dizem que Lula "não pretende ficar refém do centrão", embora o ex-presidente não hesite em participar de jantares com caciques de partidos desse campo. Para isso, o partido projeta eleger de 80 a 100 deputados, embora um número mais próximo de 70 pareça mais realista.

Se outras siglas de esquerda pegarem carona na votação de Lula e aumentarem consideravelmente suas bancadas, aliados estimam que o ex-presidente poderá ter maioria na Câmara apenas com o acréscimo do PSD –que já demonstrou disposição para apoiar o petista.

Ainda longe de uma reeleição, Jair Bolsonaro também fala em conseguir uma bancada mínima de aliados num segundo mandato, com nomes como Luciano Hang e o sanfoneiro Gilson Machado. O presidente paga o aluguel do centrão, mas quer barganhar se continuar no poder.

 

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