Folha de S. Paulo
Como deseja o ministro Guedes, filho de
porteiro não tem vez
A maneira pela qual o governo Bolsonaro
trata o Enem é a confirmação de um desejo, uma tara, uma perversão, expostos em
ações e declarações: aumentar ainda mais a desigualdade social no país. O
ministro da Economia, Paulo Guedes, é taxativo: filho
de porteiro não pode entrar na universidade. E esta, segundo o
ministro da Educação, Milton Ribeiro, há de ser para poucos, destinada às
elites, que podem pagar caro em instituições particulares.
No primeiro dia do exame, uma chacina no Salgueiro, em São Gonçalo, região mais pobre e populosa do Rio de Janeiro, deixou oito corpos jogados num mangue. Negócio corriqueiro. O governador Cláudio Castro se limitou a comentar: "Não estavam fazendo coisa boa no local". A operação policial, no entanto, impossibilitou que cerca de 500 jovens tentassem uma vaga no ensino superior. O bando que controla o sistema educacional deve ter entrado em regozijo. Quem mandou morar ali?
O Enem 2021 foi marcado por denúncias de
assédio moral a funcionários do Inep, pressões para enquadrar ideologicamente a
prova ("Aquilo mede algum conhecimento? É ativismo político", disse
Bolsonaro) e um pedido coletivo de demissão dos cargos de chefia. Apesar da
pandemia, que determinou o fechamento de escolas, o investimento para
divulgação da prova foi reduzido à metade.
A falta de organização, ou o propósito
destrutivo do governo, explica por que o número de inscritos foi um dos mais
baixos da história: 3,1 milhões, o menor desde 2005. Em 2014, no primeiro
mandato de Dilma, foram 8,7 milhões de candidatos.
O banco de dados do Enem está à míngua. Não se produzem novas questões há três anos. Desde fevereiro o ministro da Educação sabia da escassez, que pode comprometer o exame de 2022, mas não se importou. A incompetência e o descaso acabaram por impedir que o golpe de 64 fosse tratado como revolução, como exige Bolsonaro. Malandro demais se atrapalha.
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