Revista Veja
O ex-ministro tirará votos tanto de Jair Bolsonaro quanto do centro
Sergio Moro lançou sua candidatura há
apenas duas semanas e já há pesquisas indicando que chegou aos dois dígitos nas
intenções de voto. Não está claro a que patamar Moro chegará, mas é certo que
ainda tem bastante espaço para crescer. Também é certo que tirará votos tanto
de Jair Bolsonaro quanto do centro. Se tirar mais votos do centro, inviabiliza
a terceira via e entrega o segundo turno ao capitão; se tirar mais votos à
direita, inviabiliza o capitão e vai disputar a Presidência com Lula.
Moro precisa ter um discurso de direita o suficiente para tomar votos de Bolsonaro — o que explica, por exemplo, o convite ao senador Marcos do Val, que defende excludente de ilicitude (ou seja, licença para a polícia matar) e foi participante eventual da tropa de choque de Bolsonaro na CPI da Pandemia, para colaborar na área de segurança. Mas, ao mesmo tempo, Moro tem de mostrar moderação, senão não consegue votos ao centro e perde no segundo turno — por isso vem falando de injustiça social, educação, desmatamento. É um equilíbrio delicado.
À medida que a candidatura de Moro se
consolida, a necessidade de ter um nome único para derrotar Bolsonaro fecha o
espaço para outros candidatos. O PSDB, com a debacle das prévias, está em
guerra fratricida, e não se sabe direito qual será o destino de seu candidato
ou se ele conseguirá unir o partido. Ciro Gomes nunca foi competitivo — a
direita não vota nele, a esquerda prefere Lula, os liberais torcem o nariz a
seu desenvolvimentismo — e, com a presença de Moro, está emparedado. Outros
candidatos tendem a ser abandonados por seus próprios partidos.
Moro não perde por esperar: bolsonaristas e
petistas deixarão os ataques mútuos de lado para lançar sobre o ex-juiz um
violento bombardeio digital. Não está claro, no entanto, quão eficaz será a
artilharia. Afinal não há muita munição: Bolsonaro vai acusar Moro de traição,
mas todos sabem que quem traiu suas promessas foi o presidente; Lula vai dizer
que Moro torceu a lei (o que é verdade) para pô-lo na cadeia, mas só o núcleo duro
do lulismo acredita que Lula é inocente. A artilharia pode sair pela culatra e
acabar ajudando a divulgar o nome de Moro.
Se jogar suas cartas bem, Moro pode
arrebanhar os votos dos bolsonaristas arrependidos, os da direita que nunca
gostou de Bolsonaro e mesmo os dos eleitores de centro (e de esquerda) que
estavam dispostos a votar até em Lula para impedir a reeleição do atual
presidente. Se conseguir isso, Moro tira o capitão do jogo e vai enfrentar
Lula.
No segundo turno, ninguém sabe o que
acontecerá. Lula é um candidato muito mais forte do que Fernando Haddad, ainda
mais agora, que teve suas sentenças anuladas; por outro lado, Moro é um
candidato muito mais palatável e competitivo do que Bolsonaro. É provável que o
vencedor seja aquele que estabelecer pontes com o centro e apresentar uma
agenda moderada e economicamente sensata.
Defender ditadores, atacar a
responsabilidade fiscal e esnobar o centro, como Lula vem fazendo, pode não ser
uma boa ideia.
Publicado em VEJA de 1 de dezembro de 2021, edição nº 2766
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