O Estado de S. Paulo
Multinacionais devem adotar cada vez mais
práticas sustentáveis para salvar o planeta
Pense num pequeno país africano que acaba
de descobrir petróleo em seu mar territorial. Pense, agora, numa grande empresa
multinacional de móveis e equipamentos de decoração. Pergunta: quem tem mais a
contribuir na mitigação das mudanças climáticas?
A provocação é do economista Jorge Arbache, vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina. Ele esteve na COP de Glasgow, onde circulou entre CEOs do setor privado. De lá saiu com um diagnóstico: “Se as grandes empresas multinacionais abraçarem a causa da economia de baixo carbono, sua contribuição pode ser maior que a de muitas nações individualmente”. Arbache é o entrevistado do minipodcast da semana.
Enquanto um pequeno país (Gana, no caso
acima) tem jurisdição apenas sobre suas próprias fronteiras, uma multinacional
influencia cadeias produtivas no mundo inteiro. Se tais cadeias forem obrigadas
a adotar boas práticas, isso gerará um imenso círculo virtuoso. Além disso, só
grandes multinacionais teriam como bancar o investimento que a transição para o
baixo carbono exige – empresas médias correriam o risco de ficar fora do jogo.
Para que planos assim funcionem, é
essencial combinar com os “russos”, os CEOs das multinacionais – o que é algo
complexo. “Por mais que alguns sejam idealistas ou vejam oportunidades de
ganhos futuros, eles respondem a acionistas que não necessariamente abririam
mão de lucros de curto prazo”, diz Arbache. Ele acha, no entanto, que é possível
trazer os “russos” para o jogo.
Um jeito é a pressão dos consumidores. A
Ikea, multinacional sueca de móveis e decoração, patrocinou um pedaço do
pavilhão do The New York Times na COP para anunciar, entre outras
coisas, que só comercializa móveis de madeira certificada – e que várias
fábricas europeias ajustaram padrões para seguir em seu time de fornecedores.
Outro jeito é a cobrança de impostos sobre atividades intensas em carbono.
Quanto mais países criarem punições fiscais, maior o risco para os investidores
– e adotar práticas sustentáveis pode ser a melhor maneira de minimizar os
riscos.
O Acordo de Paris, cujo “livro de regras” foi finalmente concluído em Glasgow, baseia-se na contribuição individual de países – que deverá sofrer ajustes e cobranças nas próximas COPs. Na situação de emergência em que o planeta se encontra, no entanto, será necessária a contribuição de diferentes atores. Quanto mais poderosos os atores, maior a contribuição. As multinacionais estão neste caso. Precisamos não apenas combinar com os “russos”, mas também incentivá-los a entrar no jogo – e cobrar resultados.
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