Blog do Noblat / Metrópoles
O Lula precisa reconhecer que autoritarismo
não deve ser apoiado, qualquer que seja o partido e o dirigente que o pratica
Uma jornalista espanhola deu a Lula a
chance de perceber o risco de certas posições que ele e o PT assumem,
refletindo visão de esquerda do passado, alguns chamam de “exquerda”; e do
risco de estas posições atrasadas servirem para eleger Bolsonaro, por rejeição
ao PT. Historicamente, seria melhor se o Brasil contasse com posições e nomes
progressistas sintonizados com a marcha do século XXI, mas, eleitoralmente,
ainda bem que o Brasil tem o PT e Lula para ajudar a barrar a reeleição de
Bolsonaro. Por isto, Lula tem a obrigação de perceber que ainda carrega ideias
e erros do passado, e deve supera-las para cuidarmos do futuro. Depois do
Bolsonaro, não vamos voltar a 2003, mas avançarmos para 2023.
Deve superar qualquer rancor pelo que sofreu no passado recente, da mesma forma que também devem abandonar rancor aqueles que sofreram e foram agredidos pelos gabinetes de ódio do PT.
O Lula precisa reconhecer que autoritarismo
não deve ser apoiado, qualquer que seja o partido e o dirigente que o pratica.
E que a autodeterminação dos povos só tem sentido quando os povos demonstram
livremente suas determinações aos governos. Reconhecer que errou ao comparar as
sucessivas reeleições de Merkel com as eleições de Ortega. Uma coisa é a
continuidade de um partido no parlamentarismo, mantendo o primeiro-ministro no
cargo, sem mandato, sujeito a “impeachment” a qualquer momento. Diferente do
presidente que, já no poder, muda a Constituição que o elegeu para um mandato e
consegue ampliar para mais um, como fez Fernando Henrique Cardoso. Muito mais
grave quando manipula a Constituição para permitir diversas reeleições com fez
Chavez, Evo, Maduro, Ortega. Ainda pior, quando prende opositores, mesmo usando
a justiça como aconteceu com o próprio Lula.
e quiser aproveitar a lição provocada pela
entrevista sobre Ortega, precisa reconhecer erros do passado. Acerta quando
deixa aberta a possibilidade de uma aliança com Alckmin, demonstrando querer
superar o erro de tratar como inimigos a politicos social-democratas sérios,
preferindo alianças com corruptos por meio da prática do orçamento secreto
chamado mensalão. Precisa reconhecer que em função destas alianças, os governos
do PT cometeram, permitiram e foram coniventes com corrupção no mais alto grau.
Não pode continuar dando a entender que as malas de dinheiro, as devoluções de
milhões de dólares e o reconhecimento de propinas são notícias e imagens
manipuladas por uma “imprensa golpista”. Pode dizer que o juiz que o condenou
foi declarado suspeito e que não há prova incriminando-o pessoalmente, mas abusa
da inteligência do povo ao cair no negacionismo de escamotear as evidências de
corrupção ao longo de governos do PT.
O Lula tem razão de imaginar que hoje é o
único que de fato pode derrotar Bolsonaro, por isto tem a obrigação de “não
queimar seu filme”, por equívocos atuais e por não reconhecer erros conhecidos
de todos; e deve mostrar com clareza como vai evitar para que eles não se
repitam, inclusive impedindo o aparelhamento da máquina do Estado por seu
partido e aliados.
Deve assumir o erro da irresponsabilidade
fiscal que, depois de cinco anos de rigor exemplar em seu governo, começou
quando ele disse que a crise de 2008 nos EUA seria uma “marolinha”. Agravada no
momento em que a Presidente Dilma fez as pedaladas, quebrando a confiança na
economia, levando à recessão, inflação, desemprego. Lula e o PT precisam
abandonar o negacionismo da “exquerda” que considera a irresponsabilidade
fiscal como uma prática legítima e eficiente de política econômica para
financiar privilégios e ineficiências por meio de inflação, sabendo o
sofrimento que isto provoca pela desapropriação do salário dos empregados e a
penúria entre os desempregados.
Lula precisa sair da “exquerda” para formar
a aliança necessária a nos livrar de Bolsonaro em 2022, e a coalizão necessária
para governar até 2026, vencendo a inflação, a fome, o desemprego, a pobreza,
as sequelas do Covid, a desconfiança no Exterior em relação ao Brasil, e a
falta de esperança dentro do país. Sem querer, Ortega e uma jornalista
espanhola deram-lhe uma lição que ele precisa aproveitar.
*Cristovam Buarque foi ministro, governador e
senador
Nenhum comentário:
Postar um comentário