Valor Econômico
Moro vai bem nos 100 metros, mas completa a
maratona?
Depois que esgotarem as reuniões sobre
tecnologia e por que falhou o aplicativo de votação pelo celular, os caciques
do PSDB deveriam se revezar no divã para analisar por que insistem na
autossabotagem, um dos obstáculos para a almejada volta ao poder.
Seria hora de ouvir Sigmund Freud
(1856-1939), que se dedicou ao tema em ensaio de 1916, com o sugestivo título
“Os que fracassam no triunfo”. Numa síntese breve e imperfeita, o pai da
Psicanálise analisa neste texto exemplos de personagens que sentem alívio se o
objeto de desejo não é alcançado. Porque se atingissem o sucesso, não saberiam
o que fazer com aquilo.
O partido que controlou a inflação e estabilizou a moeda com o Plano Real, e governou o país por oito anos, está se embrenhando cada vez mais num labirinto de problemas.
A pane no aplicativo de votação é a ponta
do iceberg ante situações mais dramáticas. As trocas de acusações em tom cada
vez mais elevado entre os postulantes à vaga de presidenciável - os
governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite,
que polarizaram a disputa -, testam a capacidade do partido de se unir no
final.
E se o partido não se unir, não será capaz
de liderar o centro democrático na corrida por uma vaga no segundo turno, caso
não se desfaça a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Enquanto tucanos se engalfinham nas
prévias, outros próceres da sigla veem com inquietação a ascensão do
ex-ministro da Justiça Sergio Moro nas pesquisas sobre a sucessão presidencial.
Levantamento do Paraná Pesquisas divulgado
ontem mostrou que o ex-juiz, recém filiado ao Podemos, desponta com percentuais
que variam em torno de 11% em diferentes cenários. Foi o primeiro nome da
terceira via a bater a marca dos dois dígitos.
Um tucano com a ficha de filiação assinada
há mais de 15 anos, vê com perplexidade Moro avançar sobre território do PDSB.
Um de seus principais aliados é o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), que foi o
líder mais longevo da bancada tucana na função. Moro também recrutou para a equipe
o economista Edmar Bacha, um dos idealizadores do Plano Real.
“Na corrida de 100 metros Moro está bem,
mas é preciso ver se ele completa a maratona”, desafiou este tucano, aliado de
Leite. Alega que Moro tem alta rejeição em vários segmentos do eleitorado,
assim como Bolsonaro, Lula, e Doria. Enquanto Leite, por ser menos conhecido, é
pouco rejeitado.
Recostando-se no divã, este líder tucano
diz que uma das mazelas do PSDB é a insistência em impor uma espécie de
“supremacia paulista”, associada à “falta de humildade” e “diálogo” com o
restante do país.
A disputa fratricida ora protagonizada por
Doria e Leite remonta à escolha dos presidenciáveis da legenda desde a sucessão
de Fernando Henrique Cardoso em 2002, a partir de quando o diretório paulista
teria operado, reiteradamente, para impor suas escolhas para a eleição
presidencial.
Com exceção de 2014, nos pleitos
anteriores, os postulantes tucanos à Presidência foram egressos do diretório
paulista: José Serra em 2002 e 2010, Geraldo Alckmin em 2006 e 2018. As
reclamações dos outros diretórios são de que, a partir de 2006, a legenda já
dispunha de outros nomes competitivos, como o ex-governador do Ceará Tasso
Jereissati, e o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves.
A ironia nesse processo seria de que o
tucano que bateu na trave da vitória não foi um paulista, e sim o mineiro Aécio
Neves. Mesmo assim, ele só conseguiu a vaga de presidenciável porque se elegeu
presidente do PSDB em 2013, e assumiu as rédeas do partido.
Em 2014, ele obteve 48,3% dos votos válidos
contra 51,6% da petista Dilma Rousseff, perdendo por pouco mais de 3 milhões de
votos (dados do Tribunal Superior Eleitoral).
Antes de Aécio, o melhor desempenho dos
tucanos na polarização contra o PT havia sido de José Serra contra Dilma em
2010. O paulista alcançou 43,9% dos votos válidos, contra 56% da petista. Nos
pleitos de 2002 e 2006, os presidenciáveis tucanos não alcançaram sequer 40%
dos votos. Em 2018, ante o tsunami Bolsonaro, Geraldo Alckmin amargou 4,76% dos
votos válidos.
A derrocada de Alckmin coroou uma fase de
revezes do PSDB que remonta a 2017, quando denúncias de corrupção atingiram
Aécio Neves, e teve como epílogo as duas prisões de outro líder do partido, o
ex-governador do Paraná Beto Richa em 2019.
Enquanto trocam bicadas e se esfacelam em
público, os tucanos deveriam voltar para seus ninhos, fazer uma pausa para
autorreflexão, e avaliar uma mudança de rota. A sucessão de erros sugere que o
caminho de volta ao poder é para o outro lado. Ou senão, Freud explica.
Lula
Além de se reunir com chefes de Estado e de
governo da Espanha, França e Alemanha na última semana, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva se encontrou com pesos pesados do PIB europeu. Na
sexta-feira, Lula reuniu-se com CEOs de empresas espanholas que investem no
Brasil, como Santander, Telefónica, Mapfre, e Iberdrola, da área de gás e
energia elétrica. O evento ocorreu na sede da confederação das empresas
espanholas (CEOE).
Segundo fontes do PT, Lula ouviu mais do
que falou. Os executivos espanhóis relataram preocupação com a escalada
inflacionária, a complexidade tributária e a insegurança jurídica no Brasil, e
reafirmaram que a vulnerabilidade da Amazônia compromete novos investimentos no
país. Lula, por sua vez, teria relembrado realizações de seu governo, e o seu
compromisso em combater a fome, gerar empregos e recuperar a imagem do Brasil
no exterior.
Antes, na quarta-feira (17), Lula esteve
com executivos da Renault e da Dassault na solenidade em que foi homenageado
pela revista Politique Internationale, no hotel George V, em Paris.
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