Correio Braziliense
O projeto político nacional
se imporá às alianças regionais e provocará intensa troca de partido, em razão
do alinhamento aos governadores e da sobrevivência eleitoral
A grande novidade nas eleições do próximo
ano será a formação de federações partidárias, de caráter nacional e duração de
pelo menos quatro anos, o que está complicando a vida do presidente Jair
Bolsonaro, candidato à reeleição. Sua filiação ao PL, de Valdemar Costa Neto,
por exemplo, subiu no telhado, porque a aliança do político paulista em São
Paulo é com o candidato do PSDB a governador, Rodrigo Garcia. Mas não é somente
isso. A formação de frentes partidárias exige mais nitidez em relação ao
projeto nacional, o que complicou também a relação de Bolsonaro com o Centrão,
a fortaleza patrimonialista e oligárquica, porque uma parte do seu eleitorado
rejeita essa aliança e começa a migrar para a pré-candidatura do seu
ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que se notabilizou como juiz da 13a Vara
Federal de Curitiba, com a Operação Lava-Jato, por ter condenado à prisão o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A tendência é a formação de quatro ou cinco blocos partidários. A mudança parecia um retrocesso, por facilitar a vida dos pequenos partidos em dificuldades para montar chapas proporcionais nos estados, capazes de ultrapassar o quociente eleitoral (votação mínima para eleger um candidato, cujo cálculo é a divisão do número de votos válidos pelo número de vagas de cada estado); agora, estamos vendo que a formação de federações pode ser um avanço no sentido de dar mais nitidez aos projetos nacionais, pois o eixo de formação desses blocos políticos são as candidaturas à Presidência da República. Por enquanto, o bloco com mais nitidez é o formado pelo ex-presidente Lula, que articula uma “frente ampla”, nucleada por aliados tradicionais do PT: PSB, PSol e PCdoB.
A segunda frente em formação é o Centrão, a
partir da aglutinação de três partidos: o PP de Ciro Nogueira (PI),
ministro da Casa Civil, Arthur Lira (AL), presidente da Câmara, e Ricardo
Barros (PR), líder do governo na Casa; o PL, do ex-deputado Costa Neto e da
ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (DF); e Republicanos, do
bispo Marcos Pereira, o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus.
Todos também participaram do governo Lula e são pragmáticos. Bolsonaro
prometeu acabar com a política do toma lá dá cá, mas aderiu a ela e entregou a
gestão das emendas parlamentares do Orçamento da União ao Centrão. Pretendia se
filiar ao PL, que já estava conversando com Lula, mas deu marcha a ré.
Terceira via
Ainda não está claro o verdadeiro motivo do adiamento da filiação de Bolsonaro
ao PL, tanto pode ser a gestão do fundo eleitoral da federação (que não está
regulamentada, ou seja, não se sabe se esses recursos permanecerão controlados
por cada partido ou se irão para um caixa único, com gestão própria) quanto a
resistência do vereador carioca Carlos Bolsonaro, seu filho, porta-voz dos grupos
bolsonaristas de extrema-direita, que gerencia suas redes sociais, diante das
reações negativas à filiação de Bolsonaro ao PL. Bolsonaro deixou o PSL,
partido pelo qual se elegeu, mas não conseguiu formar seu próprio partido, a
Aliança pelo Brasil, e está sem legenda para concorrer à Presidência. A
formação desse bloco é indispensável para tentar a reeleição.
Havia uma expectativa de fragmentação da
chamada “terceira via”, devido ao grande número de pré-candidatos: o
ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT); os governadores João Doria (SP) e
Eduardo Leite (RS), que disputam as prévias do PSDB; o ex-ministro da Saúde
Henrique Mandetta (DEM); a senadora Simone Tebet (MDB-MS); o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE);
e, agora, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que se filiou ao Podemos.
Qualquer candidatura com possibilidade de ultrapassar 10% de votos pode ser
mantida para viabilizar uma bancada federal, ainda quer isolada.
Mesmo assim, essas candidaturas correm o
risco de não vingar, por pressão de deputados e senadores das respectivas
legendas. Ciro e Moro são os candidatos com melhor desempenho nas pesquisas,
mas têm dificuldades para fazer alianças. O primeiro está isolado na franja do
bloco de esquerda; o segundo, por causa da Lava-Jato, enfrenta a ojeriza da
maioria dos deputados e senadores que defendem a terceira via. Doria e Leite
protagonizam uma disputa autofágica, quem vencer terá que formar uma federação
robusta. Tebet é uma novidade no MDB, mas pode ser cristia nizada, como é da
tradição da legenda. Mandetta e Alessandro postulam o apoio dos demais, mas são
operadores declarados da “terceira via”. Em todos os casos, o projeto político
nacional se imporá às alianças regionais e provocará intensa troca de partido,
em razão do alinhamento aos governadores e da sobrevivência eleitoral.
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