Folha de S. Paulo
Os estragos que o vandalismo presidencial
provoca não seguem uma escala linear
O Brasil aguenta a reeleição de Bolsonaro?
Há turbulências à vista em nosso horizonte econômico e acho que elas serão poderosas o bastante para fazer com que nos livremos de Jair Bolsonaro em 2022. Isso dito, é bom lembrar que o futuro é contingente e que uma das mais sólidas lições que a ciência política nos ensina é a de que presidentes que disputam a reeleição nunca podem ser dados como carta fora do baralho. Na verdade, a vantagem que o cargo lhes dá é de tal magnitude que perder o pleito é mais a exceção do que a regra. A chance de êxito na conquista do segundo mandato é de mais de 80%.
Quanto medo devemos ter de uma eventual reeleição? A resposta curta é "muito". Essa é uma daquelas situações em que dois mais dois dá mais do que quatro. Eu me explico: os estragos que o vandalismo presidencial provoca não seguem uma escala linear. Não é difícil entender por que. Pensemos no STF. No primeiro mandato de Bolsonaro, abriram-se duas vagas. Há outras duas aposentadorias de ministro agendadas para a quadra 23-26. Ao emplacar dois juízes, o presidente consegue imprimir um caráter um pouco mais conservador à corte. Mas, se definir quatro nomes, será capaz de reverter até posições liberais hoje folgadamente majoritárias, como o aborto de anencéfalos.
E não é só o STF. Embora o estereótipo do funcionário público seja o de alguém que apenas tira do Estado, a verdade é que, principalmente em órgãos especializados como Ibama, Embrapa, Inpe, IBGE, temos muitos servidores concursados que escolheram a carreira por espírito público e amor à ciência. Vários deles permanecem no cargo, mas em contagem regressiva. Afinal, falta só um ano para o mandato de Bolsonaro acabar. Mas, se depois deste ano vierem mais quatro, muitos podem preferir tentar a sorte na iniciativa privada. A debandada que acontece agora em câmera rápida no Inep poderá se espalhar para outras áreas, debilitando ainda mais as instituições.
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