quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Vinicius Torres Freire – O Natal e o Carnaval da Covid

Folha de S. Paulo

Número de mortes por Covid volta a aumentar no estado de SP, no Brasil, é quase estável

Não é um repique, não é uma onda, mas o número de mortes por Covid em São Paulo voltou a aumentar. Não se dá muita atenção porque se trata de um alta da casa de 60 vítimas por dia para a casa dos 70. No restante do Brasil, a melhoria perdeu força. O ritmo do morticínio está entre queda ligeira e quase estabilidade.

A situação paulista é pior, segundo os registros oficiais (isto é, se a subnotificação não aumentou em outros estados). Desde fins de outubro, parou de despiorar. Fica agora ainda mais evidente a ficção do dia de "morte zero", alardeada faz umas duas semanas. Era bobagem propagandística precipitada, um erro estatístico e uma interpretação errada dos registros administrativos.

O número de mortes em São Paulo ainda era de 300 por dia no final de julho, havia sido de 800 por dia em abril. Entende-se, portanto, que pouca gente preste atenção ao problema recente, ainda mais porque faz tempo há saturação com o assunto e porque a vacina dá uma sensação maior de segurança. Mas entende-se também o motivo de um em cada nove municípios paulistas terem cancelado também o Carnaval de rua de 2022. A epidemia ainda não acabou.

O aumento do número de mortes não é lá surpreendente. Desde outubro, acabaram quase todas as restrições de aglomeração. Os estádios de futebol estão cheios, embora o transporte público na região metropolitana de São Paulo ainda esteja com um movimento 30% abaixo do normal (ou, pelo menos, 30% menor do que se registrava em outubro de 2019). O que vai acontecer quando trens e ônibus estiverem de novo tão lotados quanto antes, "AP", Antes da Pandemia? Aliás, vão voltar a lotar ou a vida nas cidades mudou?

O Carnaval está longe, mas o primeiro Natal com vacina está logo aí. Até lá, a situação pode melhorar, da vacinação inclusive. A campanha tem sido um sucesso, uma demonstração da capacidade do sistema nacional de imunização e um sinal de esperança, pois os brasileiros tomam as injeções, apesar do governo monstruoso.

No entanto, apesar desse progresso, a doença resiste. No estado de São Paulo, 99,7% das pessoas com 12 anos ou mais tomaram a primeira dose; 87% estão completamente vacinadas; 10% tomaram a dose de reforço. O número diário de novas internações em UTI continua caindo. Estão na casa de 320 por dia. Em fins de julho, eram 1.200. Em abril, passaram de 3 mil por dia.

No Brasil, descontado São Paulo, 87% dos maiores de 12 anos tomaram a dose 1; 68,8% estão vacinados. É um outro mundo, é evidente. O risco imediato é menor, mas o vírus ainda circula e mata.

Até o Natal, a vacinação terá avançado ainda mais. No momento, em São Paulo e no Brasil se aplicam por dia mais doses de reforço do que doses 1. Mas o final de ano de reuniões e viagens é ocasião para o espalhamento do vírus. É preciso que o país chegue até a época de festas com a cobertura de vacinação tão completa quanto possível. Pode reduzir muito mais o risco. Quem sabe, pode haver Carnaval, embora seja esquisito pensar em Carnaval neste país tão arrasado.

Países da Europa passam por surtos preocupantes, mas não é bem esse o motivo de ligar o sinal amarelo por aqui. O saldo das epidemias é agora muito diferente. O Brasil foi muito mais devastado por contaminações e mortes, tem vacinação cada vez mais extensa e começou a dar as injeções bem mais tarde. Por bem ou por mal, é possível que tenhamos mais gente resistente ao vírus, pelo menos no momento. Não é motivo para relaxar e darmos chance ao azar de uma mutação: estamos em uma pandemia e um mutante pode vir da Europa para o Brasil em 12 horas.

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