Correio Braziliense
O processo eleitoral é um fator de
incertezas; ao mesmo tempo, é a travessia a ser feita, porque um novo governo
terá credibilidade para tirar a economia da estagnação. O problema é que todos
os pré-candidatos estão fugindo do debate econômico
A desaceleração global da indústria e a
redução do preço das commodities podem provocar uma tempestade perfeita no
Brasil, se a economia brasileira continuar fora de controle e desacelerando. Na
prática, o único instrumento disponível para evitar uma explosão dos preços é a
alta dos juros. O ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu a credibilidade e
a economia está ancorada apenas na política monetária, ou seja, na ortodoxia do
Banco Central (BC).
Os números divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil está vivendo uma “recessão técnica”, puxada pelo agronegócio — pasmem! —, que teve uma queda de atividade de 8% no terceiro trimestre de 2021. O PIB variou -0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior. A Indústria ficou estável (0,0%) e os Serviços subiram (1,1%). No setor externo, tanto as exportações de bens e serviços (-9,8%) quanto as importações de bens e serviços (-8,3%) tiveram quedas em relação ao segundo trimestre de 2021. Mesmo assim, o PIB cresceu 4,0% frente ao mesmo período do ano passado.
É aí que mora o perigo, por causa da falta
de compromisso com o equilíbrio fiscal e o auto-engano do governo em relação ao
desempenho da economia, haja vista o baluartismo do presidente Jair Bolsonaro
nas viagens que fez à Itália e aos Emiratos Árabes. O PIB desse ano deve
crescer 5%, mas esse crescimento é relativo ao desempenho da economia no ano
passado, quando a recessão foi de -4,1%, a pior retração em 24 anos. Ou seja,
estamos diante de um “voo de galinha”, que pode virar um mergulho no mar de
incertezas de 2022.
Enquanto a política segue seu curso
intangível, sem previsibilidade do que vai ocorrer nas eleições presidenciais
do próximo ano, o debate eleitoral que se avizinha, pelas manifestações dos
pré-candidatos até agora, não é nada animador. Ninguém tem uma proposta clara
para a economia, e as narrativas predominantes, tanto no governo quanto na
oposição, são de viés populista, sem nenhum compromisso com o problema fiscal
nem uma chave realista para a retomada do crescimento.
A principal causa de revisão das
expectativas para o PIB em 2022 é a inflação, que deve obrigar o Banco Central
a subir ainda mais os juros, com efeito negativo sobre o consumo das famílias e
o investimento das empresas. O mercado financeiro está prevendo uma inflação de
8,4% em 2021. O PIB do próximo ano foi revisado de 1,7% para 1,3%.
Incertezas eleitorais
Mesmo com o novo Auxílio Brasil,
viabilizado ontem pela aprovação da PEC dos Precatórios no Senado, a renda das
famílias deve crescer 1,5%. A taxa de desemprego deve chegar aos níveis
pré-pandemia somente em 2023. Além disso, haverá uma acomodação de preços das
commodities, principalmente de minérios, além de redução das exportações para a
China. O espetacular crescimento do superavit da balança comercial, que foi de
US$ 76,6 bilhões em 2021, deve desacelerar em 2022, ficando em US$ 74,1
bilhões.
É aí que a questão eleitoral ganha
contornos dramáticos. O processo eleitoral é um fator de incertezas para a
mercado financeiro. Ao mesmo tempo, é a travessia a ser feita, porque um novo
governo terá credibilidade para adotar medidas econômicas e tirar a economia da
estagnação. O problema é que todos os pré-candidatos estão fugindo do debate
econômico; apenas emitem sinais de fumaça, quando indicam um porta-voz
econômico — como fez o ex-ministro Sergio Moro ao indicar Antonio Celso Pastore
para comandar seu programa econômico — ou lançam propostas que miram muito mais
os interesses corporativos do que, propriamente, uma saída da crise — como fez
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao falar dos preços dos combustíveis
e da Petrobras.
O único pré-candidato que tem
propostas claras e conhecidas para a economia é Ciro Gomes (PDT). Mas o
ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco nas eleições de 1994 não tem a simpatia
do mercado financeiro. Com prefácio do Roberto Mangabeira Unger, seu livro
Projeto Nacional, o Dever da Esperança propõe a retomada do percurso inaugurado
pela Era Vargas e interrompido no início da década de 1980. “O neoliberalismo
nos trouxe até aqui. Mas não nos tirará daqui”, avalia. Acontece que o nacional-desenvolvimentismo
é considerado um modelo esgotado pela globalização.
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