Folha de S. Paulo
Teme-se que as súbitas convicções de André
Mendonça durem menos que seu novo cabelo
André Mendonça, ex-advogado-geral da União, ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública e ex-careca, teve seu nome aprovado nesta quarta-feira (1º) pelo Senado para uma vaga no STF. Os 47 votos a favor homologaram tanto o seu novo forro de cabelo quanto o de convicções. Os 32 contrários —um recorde na história desses julgamentos para o Supremo— não pareceram convencidos da firmeza nem dos pelos nem das palavras. Desconfiam de que, às primeiras escovadas e questões judiciais, as felpas lhe caiam pelas lapelas juntamente com suas novas opiniões.
Ainda não se conhece a identidade do
cirurgião dermatologista responsável pelo pelame nem o processo usado —implante
ou transplante. O primeiro se dá pelo plantio de fios artificiais, que têm
risco de rejeição equivalente ao de ideias adotadas apenas para fins
eleitorais.
A segunda opção, talvez preferida, é o
transplante de unidades foliculares da própria pessoa, extraídas da nuca,
inseridas nas regiões zeradas e adubadas com células-tronco. Cada folículo
compõe-se de quatro fios, glândulas sebáceas e músculos —epa!— eretores. Como
se exigem milhares deles, o procedimento levou quase 12 horas, tempo que André
Mendonça certamente aproveitou para decorar as espertas respostas que
apresentou na arguição.
Como vimos, o homem que se ofereceu ao STF
não é mais aquele que, valendo-se de uma lei caduca, tentou assustar opositores
do governo
de Jair Bolsonaro,
entre os quais este colunista. É agora um defensor da liberdade de opinião, e
por isso tolerará a suspeita, partilhada por muitos, de que seu súbito apego à
democracia é tão postiço quanto sua novel crina.
Essa suspeita se funda nos menos de 30
minutos entre sua profissão de fé na laicidade do STF e a eufórica pregação
religiosa ao ser praticamente carregado com uma maçã na boca por seus pares de
seita. Alguns dos quais já agraciados com a queda dos primeiros fios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário