Folha de S. Paulo
Já se perguntou o quanto um ato corriqueiro
pode estar impregnado de vilania e perversidade?
Já se perguntou o quanto um ato corriqueiro
pode estar impregnado de vilania e perversidade? Em meio ao agravamento da
pandemia no Brasil, não bastasse a ausência de uma campanha oficial de
esclarecimento, um empresário gaúcho resolveu pagar para prestar um desserviço
público. Colocou dois carros de som a fazer propaganda antivacinação
infantil contra a Covid em Novo Hamburgo.
Dos alto-falantes, ouvia-se: "Atenção, pais. Nós todos temos o dever de saber que não é obrigatória a vacina experimental em nossos filhos. (...) E os fabricantes não garantem a eficácia (...). A escolha é sua, pai!". Mentiras deslavadas.
Entidades científicas mundo afora já
atestaram que os imunizantes aplicados
contra o coronavírus no país são seguros e eficazes. Além disso, o Estatuto da
Criança e do Adolescente prevê a obrigatoriedade da vacinação nos casos
recomendados por autoridades sanitárias.
Vacinas são a melhor arma para preservar
vidas frente à pandemia. Tanto que a maioria dos casos graves e das mortes pela
variante ômicron têm ocorrido entre quem não tomou o imunizante ou não
completou o esquema vacinal.
A Covid-19 está entre as dez principais
causas de mortalidade infantil segundo o Ministério da Saúde. Matou mais de
1.500 crianças e causou 2.400 casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica
Pediátrica no Brasil. Há estimativas que apontam números superiores.
Diante dos fatos e na ausência de uma
campanha oficial de esclarecimento, é aterrorizante que para algumas figuras
públicas o perfil do dito "cidadão do bem" corresponda ao de
disseminadores de mentiras com potencial letal. Nas redes sociais, teve
deputado federal apoiando e qualificando o empresário como
"patriota".
Num cenário de agravamento da pandemia,
quem espalha fake news antivacina ameaça a saúde pública, em tese pode
responder por apologia ao crime (infração de medida sanitária preventiva) e
jamais deveria ser tomado como modelo de cidadão que ama a pátria.
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