domingo, 20 de fevereiro de 2022

Janio de Freitas: O golpismo busca outras armas

Folha de S. Paulo

Justificada suspeita reforçou a preocupação com o golpismo anti-eleitoral

Justificada suspeita reforçou a preocupação, retornada em crescendo duas semanas antes, com o golpismo anti-eleitoral. Nas formalidades, quem viajou à Rússia e à Hungria levava o título de presidente; na verdade, quem procurou Putin e Orbán foi o pretendente à reeleição.

Convidado há tempos, Bolsonaro só agora foi a Moscou por seu interesse em contar com a interferência cibernética dos russos na disputa eleitoral. Ao fascista, foi por tê-lo como seu orientador de golpismo, com intermediação mensageira de Carlos Bolsonaro.

interferência de Moscou na derrota de Hillary Clinton para Trump, por cerrada emissão de fake news ao eleitorado americano, se feita no Brasil seria indefensável, como tem provado a indiferença do simples Telegram às restrições da Justiça Eleitoral. A ação russa nos Estados Unidos tornou-se a mais escandalosa, mas várias outras foram constatadas. Com os resultados pretendidos.

Os propósitos de transgredir a eleição brasileira ficaram comprovados com a tentativa de compra, por Bolsonaro, do equipamento Pegasus. Criado em Israel, é invasor de qualquer aparelhagem, para captar o uso ou introduzir os chamados conteúdos, mesmo que encontre as melhores defesas. Os israelenses vivem um escândalo de sustos e temores com a descoberta de que governantes, parlamentares e figuras de destaque, em número alto e ainda incompleto, estiveram invadidos desde o período de Netanyahu. O Pegasus opera equipamentos alheios com mais eficiência do que os donos.

Os israelenses disseram que a venda aos Bolsonaro foi recusada. Ao que se pode opor, primeiro, a absoluta inconfiabilidade de quem criou, produz, vende ou usa esse aparelho diabólico. Desde a promessa de mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, Bolsonaro alimenta, não à toa, a relação com a direita extremista de Israel, sólida no poder e sem cerimônia no uso de seus recursos contundentes. E, se feita a venda em uma das investidas dos Bolsonaro, é óbvio que os dois lados a negariam. Não se sabe se o Pegasus será, ou não, disputante eleitoral em outubro. Em alguma escala, é provável que sim.

Apesar de motivo da preocupação, a interferência russa é incerta, até improvável, talvez. Para a batalha de hostilidades entre ocidentais e Rússia, os diferentes Lula e Ciro seriam melhores do que os iguais Bolsonaro e Moro. A inserção soberana do Brasil no contexto das decisões mundiais, obsessão de Lula, só não é conveniente para poucos, Estados Unidos à frente, sua serviçal Grã-Bretanha e adendos tipo Austrália. É possível que algum mais, digamos, por concorrência comercial, sabido que Bolsonaro é garantia de retrocesso em todas as atividades positivas. Marginal, cercado de ignorâncias negacionistas, ridicularizado, Bolsonaro nada significa no nível em que Putin faz sua esgrima.

Até que comece a campanha fervente, é mais a cibernética da direita extremista de Israel, e menos a cibernética eleitoreira da Rússia, que deve engrossar a expectativa de diferentes violências na disputa pela desprestigiada presidência brasileira

Iminência diária

Joe Biden foi uma esperança fugaz —para quem teve alguma. Um de seus movimentos proporciona julgamento inapagável sobre sua capacidade presidencial: sem motivação convincente, acirrou as hostilidades com a Rússia e em seguida com a China —e levou-as a uma comunhão estratégica sem precedente, já firmada entre Xi Jinping e Putin. É uma derrota brutal para os Estados Unidos.

O esforço desatinado de Biden para atemorizar Putin, com represálias se invadida a Ucrânia, lembra uma possibilidade de efeitos fortes. Dominada a Ucrânia, não lhe seria difícil reavivar o esquisito caso dos negócios de um filho de Biden por lá, onde integrou a cúpula de grande empresa de energia, entre outras posições. Trump não concluiu a exploração política do confuso caso, também não liquidado pelos Biden nem pela Ucrânia.

Se não forem manobras, como afirmado pelos russos, a invasão lançará bombas poderosas na Ucrânia, na Rússia e nos Estados Unidos.

O futuro

"94% dos alunos do nono ano têm nível abaixo do adequado em matemática". Parece notícia crítica ao ensino. Não. É antevisão do Brasil daqui a umas duas décadas, sob a competência dos 94% dessa geração de estudantes.

Nenhum comentário: