Em giro nacional, iniciado nesta semana no Rio, presidente da sigla esteve com líderes do partido e avançou na articulação para liberar alianças nos estados. Intenção é não fazer coligação no primeiro turno, o que frustra PT
Bernardo Mello / O Globo
RIO — O presidente nacional do PSD,
Gilberto Kassab, iniciou nesta semana uma série de conversas com lideranças
regionais do partido e sinalizou a desistência de lançar uma candidatura
própria ao Palácio do Planalto. No Rio, terça-feira, Kassab e o prefeito
Eduardo Paes (PSD) conversaram sobre liberar os estados para fazer palanques
com diferentes presidenciáveis. O movimento frustra o PT, do ex-presidente
Lula, que vem costurando
apoios a candidatos do PSD em estados como Minas Gerais e Pernambuco
na expectativa de fechar uma coligação nacional já no primeiro turno, algo
que desagrada
uma ala do partido.
Nas próximas semanas, Kassab deve reunir-se
com os senadores Otto Alencar, da Bahia, e Omar Aziz, do Amazonas. Ambos já
vinham manifestando apoio à candidatura presidencial de Lula, com aval da
cúpula do PSD, mesmo quando o partido ensaiava ter candidato.
Sem um candidato próprio à Presidência,
desejo inicial de Kassab, e com palanques estaduais liberados, o PSD tende a se
aproximar de Lula em até 12 estados. Em seis, por outro lado, incluindo
colégios eleitorais como Goiás e Paraná, a sigla pode se alinhar ao presidente
Jair Bolsonaro.
Para interlocutores de Kassab, faltam hoje nomes com peso nacional e histórico na gestão pública que estejam dispostos a encabeçar uma chapa à Presidência pelo partido. Na avaliação desse grupo, o PSD tem cinco nomes que cumpririam esses requisitos: Paes, Otto Alencar, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), o governador do Paraná, Ratinho Jr., e o próprio Kassab. Nenhum deles topa a empreitada.
Pacheco se filiou à sigla em outubro com o
intuito de concorrer ao Planalto, mas recuou
no início deste ano. Kassab tentou convencer posteriormente os
ex-governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e do Espírito
Santo, Paulo Hartung (sem partido), a serem os presidenciáveis do PSD, mas
recebeu negativas.
Paes, Alencar e Ratinho Jr. priorizam
candidaturas estaduais e não mostraram interesse em concorrer à Presidência.
Kassab, por sua vez, já disse a interlocutores que aspira disputar novamente um
cargo eletivo, mas que não cogita fazê-lo enquanto tiver processos judiciais
pendentes. No ano passado, a Justiça Eleitoral de São Paulo aceitou uma
denúncia contra ele por suposto recebimento de recursos indevidos da JBS. Parte
da acusação foi arquivada em março deste ano. Kassab nega ter recebido valores
ilícitos. Sua última eleição foi à prefeitura de São Paulo em 2008.
“Porteira fechada”
Para atrair Kassab, Lula acenou com apoios
a candidatos do PSD a governo e Senado, na tentativa de ampliar o grupo de
quatro estados — Amazonas, Bahia, Piauí e Sergipe — em que a sigla já apoia o
PT. Em Pernambuco, por exemplo, a cúpula petista deve recuar da indicação à
vaga de senador na chapa ao governo de Danilo Cabral (PSB) para abrir espaço ao
deputado André de Paula (PSD), cuja candidatura ao Senado anima Kassab. Além
das direções nacionais de PT e PSD, as negociações estão bem encaminhadas com o
governador Paulo Câmara (PSB), que já havia oferecido a vaga a De Paula pelos
apoios nas eleições de 2018 e 2020.
— Os partidos delegaram ao governador a
condução desse processo. Assim como aconteceu com Danilo (Cabral), o anúncio
será feito no momento em que Paulo (Câmara) julgar adequado – afirmou De Paula.
Em Minas, onde Lula pretende apoiar
Alexandre Kalil (PSD) ao governo, a sigla de Kassab tem se movido em sentido
contrário à aliança formal com o PT. Além de não abrir mão da reeleição de
Alexandre Silveira ao Senado, o PSD filiou o deputado Agostinho Patrus,
provável vice de Kalil, tirando-o do PV. Com isso, o PSD se fechou numa “chapa
pura”, condicionando uma aliança ao apoio com “porteira fechada”.
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