O Globo
No lançamento de sua candidatura, Lula
avançou na política, acenando ao eleitorado de centro, mas, na economia, falou
apenas ao apoiador tradicional do PT. A conversa com economistas que têm
ajudado a elaborar as propostas do partido, no entanto, dá outras pistas sobre
o que pode ser um eventual governo petista.
Em caso de vitória, a promessa é manter o
arcabouço fiscal, com a permanência do presidente do Banco Central e uma visão
mais pragmática das privatizações. O grande problema é que o programa de governo
não está escrito e esses interlocutores ainda hesitam quando questionados sobre
os detalhes das propostas.
A manutenção do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é vista pela cúpula do PT como uma sinalização ao mercado de que não só a política monetária, mas também a política fiscal, não sofrerão guinadas bruscas. Não faz sentido, diz um desses economistas, relaxar nos gastos, de um lado, se, do outro, haverá Campos Neto subindo juros.
Existe a preocupação com o endividamento
público, mas há a defesa de um regime mais flexível: com cortes em períodos de
crescimento e aumento de despesas em épocas de crise. A discussão seria
“qualitativa”. Uma das ideias é ter metas para os investimentos, com
desaceleração de outros gastos, para compensar.
No campo das privatizações, a crítica é
pela forma como o governo Bolsonaro vem tentando vender as estatais, e não à
venda, em si. “No final, sempre é o privado que investe, não tem cabimento esse
tabu. Quando o governo faz a contratação de uma obra pública, paga-se o privado
para executar.
O que determina, a meu ver, é o
alinhamento. Você tem que privatizar, mas exigir metas, algo em troca”, me
disse um economista que tem falado com o mercado.
Os questionamentos à reforma trabalhista
não significam a revogação do texto, mas o que eles chamam de “atualização”.
Alguns dos problemas, na visão do partido, são que a reforma não combate a
informalidade, enfraquece sindicatos e diminui o poder de negociação dos
trabalhadores. O ideal, dizem, é que sejam elaboradas reformas em conjunto —
fiscal, tributária e trabalhista — para que os textos façam sentido e diminuam
desigualdades.
De um lado, Lula se volta para pautas
econômicas tradicionais do PT. De outro, interlocutores tentam construir pontes
com o mercado, ainda sem sucesso. Tudo somado, o PT mantém as dúvidas no campo
econômico, a pouco meses das eleições, e com a certeza de que 2023 será um ano
difícil na economia.
Encontro marcado
O economista-chefe do banco suíço Lombard
Odier, Samy Chaar, alerta que o primeiro trimestre de 2023 será um divisor de
águas na economia internacional. Em conversa com a coluna, direto de Genebra,
ele disse que nos três primeiros meses do ano que vem ficará claro ao mercado
se o Fed, banco central americano, será obrigado a dar um choque de juros ou se
as expectativas para a inflação americana estarão em queda.
“Essa é a grande dúvida hoje. Num
cenário otimista, os juros param entre 2,5% e 3%. Mas se a inflação não cair, a
taxa poderá subir mais. Seria doloroso para o resto do mundo”, avisou. Ontem, a
presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, não descartou um aumento de
0,75 ponto dos juros e trouxe volatilidade para as bolsas mundiais.
Freio de mão
O comércio subiu em março pelo terceiro mês
seguido, mostrando algum fôlego neste início de ano. O olhar de mais longo
prazo, entretanto, ainda é de sobe e desce no setor, como mostra o gráfico. Um
dos problemas do varejo é o ciclo de alta dos juros pelo Banco Central, além da
inflação corroendo a renda.
O Copom confirmou que subirá novamente a
taxa na próxima reunião, em junho, e ainda deixou a porta aberta para um novo
aumento, em agosto. O Itaú prevê que a Selic chegará a 13,75%, apenas 0,5 ponto
abaixo do pior momento do governo Dilma.
Hoje sai o IPCA de abril, e a expectativa
do economista Luis Otávio Leal é de alta de 1,01% com a taxa em 12 meses em
12,06%.
Míriam Leitão está de férias
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