Folha de S. Paulo
Esforço para melar eleições é ação
coordenada e principal programa do governo
Se há um único programa de Jair Bolsonaro
que contou com planejamento de longo prazo e dedicação de diferentes áreas do
governo, esse projeto é o ataque às urnas eletrônicas. O presidente mobilizou
auxiliares desde o primeiro ano de mandato para fabricar suspeitas sobre a
votação e reforçar seu arsenal golpista.
Bolsonaro parece desconfiar há tempos da
própria capacidade de ficar no poder pela via democrática. Ainda no final de
2019, o ministro Luiz Eduardo Ramos telefonou para um técnico em eletrônica e
pediu dados sobre possíveis fraudes nas urnas, como
mostrou a Folha.
O assunto era considerado tão sério que o general marcou um encontro do
informante com o presidente.
Na época, Bolsonaro já mostrava vontade de melar a eleição. Em novembro daquele ano, ele pegou carona numa suspeita de fraude na Bolívia e lançou nas redes sociais a ideia de implementar o voto impresso no Brasil. Nos corredores do Planalto, seus aliados usavam a máquina do governo para fortalecer o plano.
A ofensiva nasceu como uma ação coordenada.
Além de Ramos, um coronel lotado no palácio coletava informações sobre as
urnas. Pouco tempo depois, a Agência Brasileira de Inteligência acionou um
perito da Polícia Federal em busca de dados sobre ocorrências com o sistema
eletrônico de votação.
O medo da derrota levou Bolsonaro a
profissionalizar e reforçar o programa. Depois do convite do TSE para que as
Forças Armadas integrassem uma comissão de transparência, o presidente incluiu
a campanha contra as urnas na agenda militar do governo. No início deste mês,
ele chegou a reunir
comandantes num almoço para discutir as eleições.
O golpismo é premeditado e organizado —um cenário distante das generosas avaliações de que Bolsonaro só dispara bravatas para animar sua base eleitoral. Ao longo do tempo, o governo ofereceu aos delírios autoritários do presidente mais tempo e energia do que mereceram a fome, a inflação ou a vida de milhares de brasileiros na pandemia.
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