O Estado de S. Paulo
Os fundamentos de médio e longo prazos da
economia brasileira ainda não são robustos
Surpresas positivas dos recentes
indicadores de atividade levaram grande parte dos economistas brasileiros a
surfar uma nova onda de otimismo, revisando significativamente para cima suas
projeções de desempenho do PIB em 2022, inclusive com estimativas melhores para
a taxa de desemprego.
Mas, com a inflação rodando em mais de 10%
e a taxa Selic devendo superar 13%, até quando os indicadores de atividade vão
seguir surpreendendo para cima?
Em outras palavras, esse otimismo recente tem vida longa? Poderá resistir ao aumento da inadimplência das famílias brasileiras quando o efeito integral do aperto monetário em curso pelo Banco Central for sentido na economia real?
Na primeira pesquisa Focus publicada neste
ano, o consenso das projeções do PIB em 2022 apontava para um crescimento de
0,36%. Em pouco mais de quatro meses, a maioria das estimativas migrou para
0,8%, mas, nos últimos dias, muitos economistas passaram a prever alta de 1% ou
mais do PIB neste ano.
Foi o caso do Bradesco, que elevou sua
projeção de crescimento do PIB em 2022 de 1,0% para 1,5%. Na semana passada, o
banco Barclays passou a prever expansão de 1,0% (de 0,3% anteriormente) do PIB
neste ano.
Os dados mais recentes de atividade
referentes ao primeiro trimestre turbinaram as expectativas dos analistas.
Entre os indicadores, os do mercado de trabalho apresentaram melhora
surpreendente.
A taxa de desemprego ficou em 11,1% no
trimestre encerrado em março, abaixo do que previam os analistas, de 11,4%, e
bem menor do que os 14,9% no auge do impacto da pandemia de covid em 2020.
Aliás, é comum o desemprego aumentar no
primeiro trimestre do ano em razão do fim dos empregos temporários para as
festas de final de ano. Mas a reabertura da economia, com o controle da
pandemia, vem contribuindo para o aumento nas contratações pelas empresas.
É inegável que a fotografia de curto prazo
da economia brasileira tornou-se mais animadora. Não à toa, os índices de
confiança do consumidor e do empresário melhoraram em abril. Todavia, os
fundamentos de médio e longo prazos da economia brasileira ainda não são
robustos o suficiente para levar a um crescimento sustentado do investimento.
O risco fiscal segue preocupante. Quem vai
investir em ampliação de produção sem ter a menor ideia de como será a política
econômica a partir de 2023, seja quem vencer a eleição presidencial?
Sem uma nova âncora fiscal para substituir o cambaleante teto de gastos, o mais provável é haver apenas surtos temporários de otimismo como o que estamos vendo agora.
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