Valor Econômico
É urgente o debate sobre as soluções para
os problemas do país
Tem origem no latim a palavra que não sai
da cabeça de empresários e investidores neste período pré-eleitoral: risco.
Alguns verbetes remetem-na a “risicare”,
cujo significado é “ousar”. Em outros, lê-se “aquele que corta, o que corta
separando”, vindo do vocábulo “resecum”. É uma referência ao período das
navegações, quando as embarcações precisavam passar perto de rochas pontiagudas
colocando em perigo as vidas e riquezas que transportavam.
Especialistas apontam que o Renascimento
foi um marco para o desenvolvimento dos estudos desta área. Foi a época em que
mais pessoas começaram a se sentir à vontade para desafiar as crenças do
passado e arriscar o presente, de olho no futuro.
Colheu-se, entre outros resultados, o
período das grandes descobertas. Recursos até então inexplorados fizeram girar
a economia, a qual passou por um intenso processo de mudança. Diante de
turbulências religiosas, muitos se voltaram para a ciência.
Unindo a noção de risco com o conceito de probabilidade, desenvolveu-se a estatística. Era evidente a necessidade de redução das incertezas que envolviam a evolução do sistema financeiro e a expansão das trocas comerciais.
Com o tempo, o conceito de “risco” transcendeu
os cálculos feitos pelos navegadores. E agora faz parte do glossário das mais
variadas áreas, entre elas a análise de conjuntura.
Hoje, o risco político no Brasil é uma
preocupação relevante entre empresários e investidores. Por vários motivos.
Os atritos entre o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e o Ministério da Defesa têm gerado dúvidas em relação à
clareza de setores do governo oriundos das Forças Armadas quanto ao seu
comprometimento com a manutenção da estabilidade institucional. Estes não deveriam
se deixar envolver pelo presidente Jair Bolsonaro em sua cruzada contra um
sistema eleitoral reconhecido internacionalmente.
O ambiente democrático pressupõe a disputa
pelo poder. E os políticos precisam considerar a possibilidade de terem que
passar pacificamente à oposição, em caso de derrota. Cabe às instituições
assegurar que esse processo ocorra sem grandes turbulências, principalmente
instituições de Estado como os órgãos do Poder Judiciário e as Forças Armadas.
Ainda há tempo para uma pacificação
institucional, embora infelizmente este não seja o cenário mais provável a
curto prazo. Os efeitos na economia tendem a ser negativos.
Essa, contudo, não é a única preocupação. O
meio ambiente transformou-se num tema central. Nas palavras de um integrante do
governo, não há conversa com investidor ou autoridade estrangeira - de direita,
centro ou esquerda - que não aborde o desmatamento na Amazônia e a ainda
deteriorada imagem do Brasil. A definição dos rumos da política ambiental é um
ponto de atenção.
Na seara fiscal, os três principais
pré-candidatos a presidente têm dado sinais de que o teto de gastos pode
desabar. À esquerda, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Ciro
Gomes (PDT), a ideia é aumentar o volume de investimentos públicos.
Já aliados do presidente Jair Bolsonaro,
depois de criarem um puxadinho para viabilizar o pagamento de precatórios,
falam em abrir uma chaminé no teto para manter os programas sociais a partir de
2023. Onde se vê fumaça existe fogo.
Persiste a dúvida se o ministro da
Economia, Paulo Guedes, permanece num eventual segundo mandato, caso Bolsonaro
rasgue de vez o livro de receitas liberais. E nada se diz oficialmente sobre a
equipe econômica de um governo Lula.
Há incertezas em relação à formulação do
Orçamento do ano que vem. Se ganhar, o PT pode tentar impedir que o Congresso o
aprove na atual legislatura. A peça seria renegociada com o Parlamento que
tomará posse em fevereiro, diante de uma nova dinâmica na relações entre
Executivo e Legislativo. A máquina federal seria tocada com os meios possíveis
até fevereiro ou março.
As perspectivas para a reforma
administrativa não são das melhores. Bolsonaro não a encampou e seus principais
adversários até agora não a defenderam. O tamanho do Estado segue sendo um problema.
Há dúvidas sobre como ficará a legislação
trabalhista, caso Lula vença. Não há detalhamento ainda sobre o que pensa cada
pré-candidato a respeito da reforma tributária.
Condena-se, em várias frentes, o lucro -
instituto fundamental do capitalismo e conceito que deveria ser inatacável em
um país que pretende se apresentar como economia de mercado. Um exemplo recente
foi a declaração do presidente sobre o resultado da Petrobras. Bolsonaro
chamou-o de criminoso. Surge, novamente, o risco de intervenção nesse mercado.
Por outro lado, o que podem esperar os
empresários que se aproximaram de Bolsonaro, caso Ciro Gomes arranque nas
pesquisas de intenção de voto? Noutro dia, o pré-candidato do PDT acusou um
deles de sonegar impostos e assegurou que em seu governo este e outros
empreendedores bolsonaristas não prosperariam.
Aliados de Lula já conseguiram contê-lo
depois de alguns deslizes, mas outros candidatos ainda perseveram num caminho
tortuoso. Seria positivo que evitassem ser enquadrados na “Lei de Dilma”,
aquela segundo a qual se faz o diabo para ganhar uma eleição.
Todas as declarações estão sendo
acompanhadas de perto, e elas têm impacto direto no humor do mercado. Num
momento em que o Brasil luta para combater a inflação acima de dois dígitos e
fortalecer a retomada da atividade econômica, não se pode perder de vista que a
atração de capital externo tem efeito sobre o câmbio, que, por sua vez, influi
no preço de diversos produtos. Políticos, partidos e agentes públicos precisam
compreender as consequências de seus atos.
Diante disso, uma reflexão se impõe: o fim
das coligações majoritárias. O Brasil está há meses discutindo a formação de
alianças partidárias para o primeiro turno do pleito presidencial, enquanto
fica em segundo plano o debate detalhado sobre as urgentes soluções dos
problemas nacionais. Essa iniciativa também ajudaria a deixar o mar menos
revolto.
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