O Estado de S. Paulo
Chefes militares não querem ajudar nem Bolsonaro nem o Supremo
Jair Bolsonaro está arrastando menos
oficiais-generais do que pensa na irresponsável aventura política,
especialmente a de contestar o sistema eleitoral. Mas conseguiu ajudar a
quebrar uma cadeia de entendimento que já foi bastante sólida entre o topo das
Forças Armadas e o STF.
O presidente não perde oportunidade de
participar de reuniões de fardados com muitas estrelas, como aconteceu esta
semana com o Alto Comando do Exército. Só não percebe, diz um conhecedor dessas
rodas, que já virou “encontro de comadres com restos da comida do dia anterior,
não serve para nada”.
Os comandantes militares não estão
dispostos a marchar com Bolsonaro rumo à insensatez. Contudo, repetem
exatamente as mesmas críticas de Bolsonaro ao STF. Consideram que o Supremo
deixou de ser um tribunal “unido” e se transformou num ajuntamento de togados
obcecados por holofotes.
Mais ainda: interferem nos outros Poderes e exercem influência perniciosa na política, sem terem sido eleitos. A paciência se esgotou, resume oficial da ativa, quando integrantes do Supremo como o ministro Luís Roberto Barroso, ainda por cima falando a estrangeiros, distorcem a participação das Forças Armadas no processo eleitoral.
Ela é, asseguram, estritamente técnica e
profissional, e destinada a ajudar o TSE com o conhecimento específico de
guerra cibernética, além de serviços de logística. Essa participação é
“sigilosa” devido ao caráter sensitivo da questão, e não por desígnio
bolsonarista de duvidar das urnas eletrônicas.
Pouco antes das eleições de 2018 o então
chefe do Estadomaior do Exército, general Fernando Azevedo, foi nomeado
assessor do então presidente do STF, Dias Toffoli. A ideia, desenhada pelo
então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, era “pacificação” do
ambiente político. De lá para cá os canais de entendimento entre o STF e os
militares em postos de comando se deterioraram sensivelmente.
Em parte, argumentam ministros da Corte,
perdeu-se a capacidade de diálogo por causa de incompreensões mútuas. Quando é
que os generais se deixaram seduzir pelo poder e por Bolsonaro, perguntam
ministros. E como podem ministros associar Forças Armadas a genocídio, indagam
generais. Em parte, reflete um senador com largo tempo na política, “não há
quem atue hoje como algodão entre as peças de cristal”, muito menos os chefes
dos Poderes.
A crise do presidente com o STF é vista por
comandantes militares como “jogo político eleitoral”. Asseguram que é um jogo
no qual não têm intenção de interferir. Mas também não querem conversa.
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