Folha de S. Paulo
Autoridade monetária afirmava que aperto
monetário ia acabar neste mês. Não deu.
O arrocho vai continuar, como era
previsível. O Banco Central aumentou
a taxa básica de juros, a Selic, de 11,75% para 12,75% ano, como havia
jurado em meados de março. Mas, então, muito otimista, dissera que a onda de
aperto terminaria neste mês.
Não vai dar.
Haverá pelo menos mais um aumento, na
reunião de 15 de junho, a não ser que a paz baixe na Ucrânia,
chova maná do céu e o coronavírus desapareça da China —e olhe lá.
Para quanto vai a Selic? Para começar,
provavelmente a 13,25%, no mês que vem e a 13,75% em setembro. No mínimo.
O próximo governo vai começar com um peso
ainda maior nas costas. Se disser muita bobagem na campanha e na
"transição", pode arruinar suas possibilidades de sucesso logo de
cara.
O maior aperto de juros desde 2013-2015 só
acaba quando termina, escreveu a direção do BC no comunicado da sua decisão
desta quarta-feira: "... é apropriado que o ciclo de aperto monetário
continue avançando significativamente em território ainda mais
contracionista" ... "até que se consolide não apenas o processo de
desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas
metas".
O arrocho vai até que a expectativa de inflação de 2023 volte para a meta. Tem chão ainda.
O que pesa, de mais negativo, além da inflação
ainda fora de controle e imprevisível? Carestia mundial e risco de a dívida
pública crescer sem limite (sabe-se lá o que será da política econômica que
sairá das urnas e se o próximo governante do Brasil terá algo dentro da
cabeça).
O que poderia atenuar altas de juros
futuras? Preço de commodities e dólar em baixa; economia crescendo ainda menos
do que o previsto para 2022 (0,7%) e para 2023 (1%).
Parte grande da inflação está fora do
controle dos bancos centrais, a não ser que decidam promover uma recessão
profunda como os infernos. Por ora, não parece ser nem de longe a intenção do
BC mais importante do mundo, o americano, que nesta quarta-feira afirmou
que não vai acelerar a alta de juros por lá.
Além das agruras domésticas de cada
freguês, há dois problemas internacionais desembestados.
Um deles é a Guerra da Ucrânia, com
implicações já muito sabidas sobre
preços de energia e comida. Não se tem ideia de quando a guerra vai
terminar ou quando haverá fontes alternativas de energia bastantes para atenuar
o dano econômico básico e mais imediato do conflito.
A outra fonte de inflação é a política
de "Covid zero" na China, país que é a oficina básica da
indústria mundial. Se a produção chinesa é interrompida por
"lockdowns", há desabastecimento de produtos finais, peças e outros
insumos industriais.
Desde meados de 2020 se diz que,
"daqui a uns seis meses", o abastecimento vai voltar ao normal. O
próximo prazo a ser descumprido agora é o início de 2023. Até lá, essa pressão
inflacionária continua.
Para piorar, a inflação para o consumidor
na maior economia do mundo está além de 8% ao ano, em parte por causa de aperto
no mercado de trabalho. A carestia e o superaquecimento da economia americana
contaminam preços pelo mundo.
Nesta quarta-feira, o Fed, o Banco Central
americano, elevou a taxa de juros básica deles para a faixa de 0,75% a 1% ano,
em um raro aumento de meio ponto percentual. É possível que a taxa vá a
2,75%-3% até o final do ano. Muito? A taxa real de juros (ex post) ainda
estaria muito negativa. A inflação passou de 2,6% ao ano em março de 2021 para
8,5% em março de 2022.
Além de saber o que vai ser da inflação
mundial, a questão agora é ver se os EUA vão ser capazes de atenuar o
aumento de preços sem embicar para a recessão.
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