Folha de S. Paulo
Forças Armadas lideram criação de roteiro
para anular votação em caso de derrota
O ministro Luís Roberto Barroso foi até
generoso quando perguntou se as Forças Armadas são "orientadas
para atacar" as eleições. Depois de três anos no coração do poder, com
uma adesão continuada às ameaças golpistas de Jair Bolsonaro, é impossível ver
os generais como colaboradores que apenas obedecem cegamente às ordens do
presidente.
Se Bolsonaro levar adiante o plano de melar
as eleições, o golpe será militar. As Forças Armadas trabalham ativamente na
confecção do roteiro que o presidente parece disposto a seguir para invalidar a
votação e continuar no poder. Além disso, os generais passaram a disparar
insinuações cada vez mais ameaçadoras de intervenção nesse processo.
Há meses, o militar indicado pelo Exército para atuar no TSE procura as brechas que Bolsonaro e seus sócios pretendem usar para anular a votação em caso de derrota.
Num ofício ao tribunal, o general Heber
Garcia Portella tentou abrir a porta para a realização de novas eleições caso
sejam apontadas irregularidades. Os governistas querem saber quais são os
critérios para repetir a votação caso haja perda de dados nas urnas –uma
hipótese que o TSE considera remota.
Os militares também decidiram forçar a
barra para justificar sua interferência na disputa. Em duas notas, o Ministério
da Defesa afirmou que "as
eleições são questão de soberania e segurança nacional" e avisou
que a instituição estará em "permanente estado de prontidão" para
cumprir missões constitucionais.
As Forças Armadas se comportam como
protagonistas políticos, não como personagens que só acompanham Bolsonaro nessa
história. Não há notícias, aliás, de que o capitão tenha dado ordem ao general
Eduardo Villas Bôas, em 2018, quando o
comandante do Exército tentou pressionar o STF no julgamento de um
habeas corpus de Lula.
Ainda há quem alimente a ilusão de que uma "ala militar" poderia frear as aspirações autoritárias de Bolsonaro. Lances recentes já deveriam ter sepultado essa fantasia.
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