sábado, 18 de junho de 2022

João Gabriel de Lima*: Muito além da corrida de cavalos

O Estado de S. Paulo

Pesquisas ajudam na tomada de decisões, pois o voto útil é ferramenta legítima nas democracias

Em época de eleições, a reação dos políticos às pesquisas segue um padrão. Quem está ganhando compartilha os resultados em suas redes. Quem está atrás inventa teorias conspiratórias para minar a credibilidade dos institutos. Tais teorias costumam se basear num mito: o de que as pesquisas são capazes de prever os resultados das eleições. Se “erram”, é porque não prestam.

Trata-se de uma concepção equivocada. Pesquisas não são oráculos. “Elas trazem informações que vão além da posição de cada candidato na corrida de cavalos”, diz Thomas Traumann, analista de risco político e autor de relatórios para empresários e o mercado financeiro. Ele é o entrevistado no minipodcast da semana.

Através das pesquisas é possível entender o humor do eleitor – e saber, assim, qual o tema dominante em cada pleito. Nesta eleição, segundo Traumann, será difícil fugir da agenda econômica. “Quando mencionamos a economia, falamos na verdade em emprego e nos preços do supermercado”, diz ele – e não temas abstratos como teto de gastos ou âncoras fiscais.

Trata-se de uma mudança de tendência. “Tivemos em 2018 um índice altíssimo de renovação do Congresso. O brasileiro queria novidades. Agora há um cansaço com os candidatos ‘youtubers’. O eleitor quer políticos capazes de entregar resultados”, afirma Traumann, com base na leitura de várias pesquisas baseadas em números, além de grupos de discussão.

As eleições municipais de 2020 foram um prenúncio da nova tendência. Ao contrário de 2018, o eleitor preferiu políticos experientes, o que resultou numa onda de reeleições.

Dados das pesquisas são valiosos para planejadores de campanhas eleitorais. Para o eleitor comum, os levantamentos ajudam na tomada de decisões, pois o voto útil é uma ferramenta legítima nas democracias.

Isso ocorreu neste ano em Portugal. Muitos eleitores de centro migraram, na véspera da eleição, para o Partido Socialista, com medo de que uma coalizão de centro-direita incorporasse os radicais do Chega. No Brasil, lembra Traumann, o voto de última hora costuma punir o PT, mas nem sempre isso acontece. Um caso famoso ocorreu em 1988 em São Paulo, quando os eleitores de José Serra votaram em Luiza Erundina para evitar que Paulo Maluf chegasse à Prefeitura.

O Estadão lançou recentemente um agregador de pesquisas eleitorais em que institutos considerados “padrão-ouro”, como o Ipec e o Datafolha, têm mais peso na média ponderada. É uma ferramenta eficiente para o eleitor que quer tomar boas decisões – mantendo distância das conspirações criadas pelos cavalos que comem poeira.

*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na Universidade de Lisboa

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Não lembro de outro candidato colocando a eficiência das urnas eletrônicas em xeque,o Aécio foi depois que já tinha perdido,mesmo assim telefonou pra Dilma dando os parabéns pela vitória.